O que é jornalismo de precisão? Hoje, quarta-feira, o curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto discutiu as novas áreas do jornalismo, novas formas de especialização como o jornalismo de precisão.

A conferência, organizada pelo professor de jornalismo Jorge Marinho, contou com a presença de Fermín Galindo, académico da Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela (USC). Ambos discutiram a pertinência da inclusão do jornalismo de precisão como disciplina das licenciaturas portuguesas.

O jornalismo de precisão é um campo académico, relativamente, recente a nível internacional que já está a ganhar credibilidade em Espanha e a dar os seus primeiros passos em Portugal.

Sendo uma área nova, o jornalismo de precisão ainda gera muitas dúvidas quanto ao seu âmbito de interesse e de especialização. Segundo Fermín Galindo, autor do livro “Ambitos del periodismo de precisión”, “ao jornalista de precisão cabe fazer uma recolha de dados estatísticos ou não, sobre determinado tema e analisá-los com rigor, recorrer a especialistas e dar-lhes um sentido informativo e noticioso”.

Temas como o envelhecimento da população ou a obesidade infantil, assuntos tão actuais, têm interesse do ponto de vista informativo mas às vezes passam à margem das agendas das redacções dada a sua complexidade matemática e de análise qualitativa. “Mas com um jornalismo de precisão reconhecido por todos, temas como estes podem passar a ser tratados e publicados com mais frequência, algo que é do interesse público e comum”, defendeu o professor galego.

Estratégia de diversificação

Frequentemente, o jornalismo de precisão é aplicado “por pessoas não especializadas na área pelo menos em Portugal e ainda um pouco por toda a Europa” em casos de máxima relevância como eleições ou jogos de futebol. “As sondagens, os escrutínios eleitorais ou mesmo a análise das tabelas classificativas são fontes de dados com valor noticioso mas que por si só não dizem nada ao público, daí a necessidade da intervenção de um bom jornalista de precisão”, explicou Galindo.

A pertinência desta “desconhecida” área do jornalismo não se resume apenas aos temas relevantes. Por exemplo, quando no Verão ou em outras épocas do ano pouco férteis em notícias, dada a paragem do Parlamento ou do campeonato de futebol, as redacções recorrem “às vezes sem se aperceberem” a peças jornalísticas de precisão para poderem diversificar as suas publicações.

O professor da USC sublinhou que “apesar de, algumas vezes, se tratarem de reportagens de execução lenta e que exigem um trabalho muito minucioso, as peças de jornalismo de precisão podem funcionar como recurso para esses momentos mortos”.

Por sua vez, Jorge Marinho defendeu a implementação da disciplina de jornalismo de precisão nos currículos dos cursos de ciências da comunicação portugueses. “Assim abrem-se novas portas para uma área [o jornalismo] que está um pouco saturada”.

Paula Teixeira
Foto: Arquivo JPN