D. António Ferreira Gomes, o “eterno” Bispo do Porto, foi um dos principais pensadores do século XX português e uma das figuras de proa do combate contra o Estado Novo.

Numa altura em que se comemoram os 100 anos do seu nascimento, Margarida Fonseca Santos (texto) e Júlio Cardoso (encenação) levam ao palco do Teatro do Campo Alegre a peça “António, Bispo do Porto”, em jeito de homenagem a uma das figuras mais marcantes da história da cidade “invicta”. A peça está em cena desde 10 de Maio.

Ao longo de duas horas e meia, os actores da Seiva Trupe dão a conhecer a vida de D. António Ferreira Gomes, desde os anos em que leccionava no seminário do Porto, adorado pelos alunos devido ao seu sentido de humor e justeza de catrácter, até à sua morte, como Bispo do Porto, amado e respeitado pelo povo, depois de uma década de exílio por ter ousado enfrentar Salazar.

A peça vive pouco da personagem de D. António e mais dos dramas de quem o rodeia: as dúvidas dos seminaristas, a história de amor entre os dois jornalistas que o acompanham, o deboche dos agentes da PIDE que o vigiam. D. António (Alexandre Falcão) aparece em palco enquanto clérigo, discursando brilhantemente, corajoso e digno nas atitudes. Mas de António, o homem, pouco ficamos a conhecer.

A ausência da dimensão humana, comum, do Bispo do Porto é a grande lacuna do espectáculo. Alexandre Facão lê ao público as envolventes palavras de D. António, mas não chega para sentirmos pelo personagem a ternura que o Porto sentiu pelo seu Bispo.

Apontamentos de composição, canto e coreografia conferem frescura e vivacidade à peça, mas é nítida a ausência de “picos” de emoção.

Destaque para o trabalho dos actores, vibrante e enérgico, numa actuação que, pela diversidade de modalidades envolvidas (música, canto, dança) exige grande disponibilidade.

“António, Bispo do Porto” está em cena no Teatro do Campo Alegre até 2 de Junho, de terça a sábado às 21h30 e domingo às 16h00. Os bilhetes custam entre 10 e 12,5 euros.

Texto e foto: Andreia C. Faria