As crianças dos bairros do Lagarteiro e de Contumil, no Porto, podem contar dois dias por semana com a visita da carrinha da Equipa de Rua Oriental, da Associação Norte Vida. Esta equipa apoia as crianças e jovens em situação de ruptura familiar, sócio-sanitária e de risco. O objectivo é promover a saúde e a qualidade de vida dos jovens e orientá-los para prevenir comportamentos de risco.

O JPN acompanhou uma ida da Equipa Oriental (EO) ao Lagarteiro para conhecer de perto o contacto das crianças com os elementos da Associação.

Mal a carrinha da EO vira a última curva antes de entrar no bairro, já algumas crianças correm ao seu encontro. “São os nossos miúdos”, exclama Gilberto Antunes, animador sociocultural, deixando transparecer um certo orgulho pela alegria das crianças.

Hoje a “aula” é sobre reciclagem. Aprender brincando é o lema da EO. Através de jogos, as crianças do bairro do Lagarteiro vão aprender a importância de separar o lixo para ser reciclado e saber que estão a contribuir para a salvaguarda do ambiente.

Ana Pedrosa, Nicole Vieira e Cátia Oliveira, estagiárias na EO, preparam o “Jogo do Ecoponto”: as crianças são distribuídas, através de um sorteio, por três grupos – a equipa azul, a equipa verde e os “ecopontos”. Às cores amarelo, verde e azul vão corresponder o plástico, o vidro e o papel, respectivamente. Ambas as equipas – preta e azul – têm um saco com materiais devidamente assinalados com a cor que as identifica e, através de uma corrida de sacas, têm que introduzir o lixo no ecoponto correcto. No fim do jogo, os objectos depositados nos “ecopontos” pelas duas equipas são contados.

O jogo tem como objectivo valorizar o trabalho de equipa. “Se uma criança faz batota ou tem um mau comportamento, a equipa a que pertence é penalizada através da retirada de pontos”, refere Ana Pedrosa. “É uma maneira de eles perceberem a importância de trabalharem em grupo”.

“Neste momento estamos a desenvolver um projecto que incide sobre os temas reciclagem, higiene oral e alimentação através de jogos”, explica a estagiária de animação sociocultural, Cátia Oliveira. “Estas crianças não têm hábitos de higiene, nem de alimentação”.

Para os animadores socioculturais o resultado do trabalho desenvolvido com as crianças do Lagarteiro é positivo. “Enquanto estão connosco apercebemo-nos de diferenças de comportamento. O simples facto de beberem um iogurte e irem colocar a garrafa no lixo, em vez de a atirarem para o chão já é uma vitória”, afirma Ana Pedrosa. “Podem é chegar a casa e desaprenderem aquilo que aprenderam”, lamenta.

“É difícil [as crianças] convencerem os pais a mudarem hábitos”. “‘Dá muito trabalho’ é o que ouvimos dizer muitas vezes”, afirma Andreia Gingeira, também animadora sociocultural.

“Carência afectiva é a que sentimos no primeiro contacto [com as crianças]”, conta Cátia Oliveira. “É um ambiente de bairro: a maioria das crianças fica sozinha na rua grande parte do tempo”, explica.

Andreia Gingeira lamenta a falta de apoios à EO. “Precisamos de material para trabalhar com as crianças, e já recorremos a várias empresas que não nos apoiaram em nada”. “As campanhas ‘de solidariedade’ que passam na televisão acontecem porque [essas empresas] sabem que têm publicidade”, elabora.

Texto e fotos: Gina Macedo