Inês Felgueiras, psicóloga na Equipa Oriental (EO) da Associação Norte Vida, explica que o projecto “numa fase inicial era um trabalho de levantamento de necessidades com articulação institucional”.

“O objectivo era avaliar junto dos vários bairros sociais do Porto quais aqueles em que as crianças e adolescentes precisavam de uma resposta institucional mais imediatista, e seleccionou-se Contumil e Lagarteiro”, elabora.

A psicóloga refere que o trabalho da EO surgiu no seguimento de um projecto já existente em Lisboa. “O Instituto de Apoio à Criança [IAC], em Lisboa, trabalhava mesmo com crianças de rua. O objectivo do IAC era devolver essas crianças à família e a instituições. Foi nessa lógica que se criou esta equipa, ainda que seja destinada a crianças com características diferentes”.

Inês Felgueiras considera que “a maior necessidade” das crianças que vivem em bairros como o do Lagarteiro é de cariz estrutural. “A principal carência das crianças é mesmo o contexto e a estrutura onde as crianças estão inseridas”, afirma Inês Felgueiras.

“O bairro não é nada acolhedor. Não há um sítio para se estar aqui. Os miúdos querem brincar e não têm onde. Em casa também não têm muitas condições. As instituições – como a escola – se calhar não dão respostas muito adequadas”, concretiza.

“Também há muita falta de mimo, afecto e colo, mas antes disso vem a falta de estruturas básicas”, acrescenta a psicóloga, que acredita na mais-valia da EO para as crianças do Lagarteiro. “Há evoluções notórias ao nível do comportamento dos meninos. E mesmo que não consigam mudar os pais, é importante atingi-las a elas pois serão os adultos de amanhã”.

A EO precisa de ajuda financeira para poder continuar a actuar numa estratégia de prevenção de comportamentos de risco junto das crianças do Lagarteiro e de Contumil. Actualmente os apoios chegam apenas da Segurança Social e da Junta de Freguesia de Campanhã, à excepção de patrocínios pontuais.

Para além da EO, a Associação Norte Vida tem outras estruturas, entre as quais a Escola Profissional de Tecnologia Psicossocial, onde Andreia Gingeira e Gilberto Antunes, membros da EO, tiveram a oportunidade de se formar. Para a psicóloga Inês Felgueiras, “é importante a formação de técnicos psicossociais que acabam por integrar algumas estruturas da associação”.

Texto e fotos: Gina Macedo