Gisberta Salce Júnior, a transexual assassinada no Porto, em Fevereiro deste ano por um grupo de menores, é recordada hoje, quinta-feira, em manifestações em vários países da Europa. Amanhã, no Brasil, decorre na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, de onde Gisberta era originária, uma sessão solene como uma homenagem póstuma à transexual, que morreu em condições de extrema exclusão social.

Organizados pela rede europeia transgénero (European TransGender Network), estão marcados para hoje protestos em frente às embaixadas e consulados portugueses de Itália, Alemanha, Áustria, Espanha e França. Objectivo: “repudiar a atitude do Governo português e da Igreja portuguesa” no que consideram ser o “branqueamento” de um “crime de ódio” motivado por “transfobia”, explica ao JPN Lara Crespo, da direcção da AT, associação para o estudo e defesa do direito à identidade de género, envolvida nos protestos.

“O director das Oficinas de S. José veio desculpabilizar os rapazes [suspeitos do crime] dizendo que ela [Gisberta] os tinha assediado. Como é que alguém nas condições físicas e mentais em que ela estava poderia assediar 13 ou 14 rapazes marginais?”, questiona Lara Crespo, que diz ainda que o “Governo tentou ignorar o caso” e que a imprensa fez uma cobertura errada do assassinato.

No manifesto [PDF] da European Trans Gender Network (TGEU), reivindica-se, entre outras medidas, uma “reforma fundamental no sistema de ‘protecção de menores’ em Portugal”, apoio social aos grupos marginalizados (como toxicodependentes ou trabalhadores do sexo) e a inclusão da “identidade de género” na legislação e a instituição dos crimes de ódio motivados por transfobia.

Documentário exibido hoje

Com objectivos semelhantes aos protestos de hoje, é hoje exibido pela primeira vez “Gisberta – Liberdade” [veja o “trailer”], um documentário realizado por Jó Bernardo, dirigente da AT, e do austríaco Jo Schedlbauer, da TGEU.

No Porto, o filme será apresentado hoje às 21h30, na Academia Contemporânea do Espectáculo. À mesma hora, o documentário é exibidido em Coimbra, na cave da galeria Bar Santa Clara. Ambas as apresentações são seguidas de debate.

Com entrevistas a membros de associações e conhecidos de Gisberta, o documentário “conta a história de tudo o que aconteceu desde o assassinato” e pretende lembrar que “somos todos responsáveis”, diz ao JPN Jó Bernardo. O filme, “sem direitos de autor”, pode ser pedido através da AT para ser exibido noutros pontos do país e do mundo.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: DR