O edifício histórico da Universidade do Porto, na Praça Gomes Teixeira, alberga até 14 de Julho uma exposição fotográfica sobre o acidente na central nuclear de Chernobyl. A iniciativa surge na sequência de uma cooperação entre a universidade e a embaixada da Ucrânia em Portugal, 20 anos passados sobre o trágico dia de 26 de Abril de 1986.

A inauguração da exposição, na passada sexta-feira, juntou vários especialistas para discutir a introdução da energia nuclear em Portugal. A reunião foi presidida pelo reitor da Universidade do Porto, José Novais Barbosa, e pelo cônsul da Ucrânia, Volodymyr Krasilchuk.

Para Eduardo de Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), “a questão da energia nuclear em Portugal é uma anedota”. O especialista nas áreas da Energia e do Ambiente diz que “é essencial que o nosso país construa o seu próprio ‘portfolio’ em termos energéticos com base nas nossas potencialidades”.

O professor está ainda preocupado com a excessiva dependência energética de Portugal. Avança que “o nosso país importa cerca de 85% da energia que consome, daí que seja necessário o ‘break through’ tecnológico” para que Portugal diminua esta dependência. O grande problema é que o consumo de energia é cada vez maior e prevê-se que “daqui a 20 anos estaremos a consumir mais 70 a 100% de petróleo por dia do que consumimos hoje”, lembra Oliveira Fernandes.

João Peças Lopes, coordenador da Unidade de Sistemas de Energia do INESC-Porto, é peremptório ao afirmar que é “contra à construção de centrais nucleares em Portugal”. “O consumidor teria que pagar, para além da taxa normal de electricidade produzida por uma central nuclear, os custos de investimento elevados numa tecnologia nova em Portugal”, argumenta.

“As centrais não vão ser feitas em cima das cidades, que são as principais consumidoras de energia, pelo que haveria a necessidade de construir infra-estruturas que funcionassem como um ‘backup’ das centrais principais”, o que significa um aumento das taxas para os consumidores, disse Peças Lopes.

“A segurança acrescida no transporte e o reforço da interligação com Espanha, que nos liga à rede europeia, são outros dos investimentos fundamentais quando se pensa na implantação de energia nuclear no nosso país. Tudo isto iria sobrecarregar as despesas, e o embaratecimento da energia, principal vantagem apregoada pelos defensores da energia nuclear, não se poderia verificar”, destaca o professor.

Nuclear em Portugal

Na audiência estava um activista da Plataforma Não à Opção Nuclear em Portugal que mostrou a sua oposição à alternativa energética. Condenou principalmente a iniciativa de Patrick Monteiro de Barros, que em Junho de 2005 anunciou a intenção de construir uma central nuclear em Portugal.

Para o empresário, a energia nuclear é “inevitável” em Portugal. Numa entrevista ao suplemento económico “Dia D” do jornal “Público”, publicada a 12 de Junho, reiterou que “o nuclear é eficiente, limpo, seguro e mais barato”, considerando que há “coisas mais nocivas” que os resíduos que esta energia produz.

Patrick Monteiro de Barros é um dos maiores defensores do nuclear a nível nacional. O grupo que lidera está disposto a investir 3,5 mil milhões de euros. O modelo que quer implantar em Portugal é finlandês com uma unidade de 1.600 megawatts de reactores EPR, que classifica como “o último grito” na tecnologia nuclear.

O empresário diz que o nuclear é a única forma de responder à limitação de emissões de CO2 de 36 milhões de toneladas, estabelecida para Portugal. A limitação impede as empresas de se desenvolverem e “todas as indústrias vão ficar asfixiadas”, prevê Monteiro de Barros.

Disse ainda que “as renováveis não chegam para responder às necessidades do país”, pois são limitativas e inconstantes. “Se queremos ter um país sem poluição, mais limpo, a única solução que temos é o nuclear”, adiantou o empresário.

Catarina Abreu
Foto: SXC