São cerca de 330 mil obras em formato digital, em mais de 100 línguas, que poderão ser descarregadas gratuitamente, no âmbito da Feira Mundial do Livro Electrónico. O projecto começa no dia 4 de Julho e prolonga-se durante um mês.

A feira assinala, este ano, o 35º aniversário da colocação do primeiro “e-book” (livro electrónico) na Internet. Tratava-se da “Declaração da Independência dos Estados Unidos”, disponibilizada pelo fundador do Projecto Gutenberg, Michael Hart. O projecto, criado em 1971, tornou-se numa biblioteca universal de versões “online” de livros que já existem fisicamente.

Os livros electrónicos estão disponíveis gratuitamente, não pretendendo atropelar os direitos de autor. Há obras de domínio público, textos cujos direitos autorais expiraram, e outros que são autorizados a publicar pelo próprio autor.

A Feira Mundial do Livro Electrónico, que pretende “reduzir a ignorância e o analfabetismo”, é organizada pelo Projecto Gutenberg e pela World eBook Library, uma das maiores bibliotecas digitais.

O objectivo da feira é chegar a um milhão de livros gratuitos em 2009, começando com cerca de 300 mil este ano, 500 mil em 2007 e cerca de 750 mil em 2008.

“Suporte digital não ameaça o livro impresso”

Alguns clássicos da literatura portuguesa estarão nas prateleiras electrónicas da Feira do Livro. Luís Vaz de Camões, Almeida Garrett, Florbela Espanca, Eça de Queiroz, António Nobre, Ramalho Ortigão, Cesário Verde e Alexandre Herculano são alguns dos autores disponíveis gratuitamente.

O vice-presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Francisco Madruga, disse ao JPN que o “suporte digital não ameaça o livro impresso”. “As pessoas têm o hábito de ter o livro, é um objecto que lhes dá prazer. Ao imprimir o conteúdo de um livro, mesmo que gratuitamente, a sua apresentação não é a mesma”, completa.

O responsável da APEL nota que “qualquer actividade que seja para divulgar o livro é bem-vinda”. E não vê nos “e-books” qualquer perigo para o mercado livreiro. “O número de utilizadores da internet em Portugal ainda é residual, comparativamente à Europa. Seria necessário que cada português tivesse um computador em casa, com internet, quando, muitas vezes, nem nas escolas há”, conclui.

Francisco Madruga reconhece apenas alguma “concorrência” nas publicações mais caras, como enciclopédias ou dicionários. A queda das vendas de livros tem a ver, segundo o membro da APEL, com a redução do “poder de compra das pessoas”.

Carina Branco
Foto: SXC