Só um terço do noticiário político dos quatro maiores diários portugueses é produzido por iniciativa dos jornalistas. Mais de 60% das notícias são induzidas por fontes profissionais, como os assessores de imprensa.

As conclusões, resultantes da tese de mestrado de Vasco Ribeiro pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (UP), podem até ser “simpáticas” para os jornalistas, já que há muitas notícias que não puderam ser classificadas mas que terão sido induzidas pelas chamadas “fontes sofisticadas”, preparados profissionalmente para lidar com a comunicação social.

Vasco Ribeiro é docente na UP e foi assessor de comunicação do ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso e do candidato socialista à mesma autarquia Francisco Assis. Analisou cerca de 5 mil notícias das secções de “Politica” e “Nacional” do “Correio da Manhã” (CM), “Diário de Notícias” (DN), “Jornal de Notícias” e “Público”.

Os jornais de referência apresentam maiores índices de iniciativa dos jornalistas, mas as diferenças para a imprensa popular não são muito grandes: no “Público”, 33% das notícias partem das redacções, contra 23% no CM.

À primeira vista, o panorama é pouco lisonjeiro para a imprensa nacional. No entanto, o estudo confirma cientificamente aquilo que é a “percepção generalizada” nas redacções. Vasco Ribeiro, actualmente assessor da Reitoria da UP, conta ao JPN que houve jornalistas que lhe disseram que “os resultados eram animadores”.

Hegemonia das fontes oficiais

“Apesar do domínio das fontes oficiais ser, à partida, previsível, visto tratar-se de um estudo centrado em notícias políticas, a hegemonia deste tipo de fontes é, a todos os títulos, surpreendente”, escreve Vasco Ribeiro no estudo. Até o ‘Público’, que apresenta o valor mais dissonante (88,2%), está perto da média global de utilização de fontes oficiais: “uns esmagadores 91,3%!”.

80% das notícias têm fonte atribuída e há “equidade jornalística” no tratamento do poder e da oposição. O “Público” e o DN são os jornais que mais usam fontes anónimas, porque são também os que mais “procuram fugir à informação intencionalmente proveniente das fontes profissionais”.

Não há estudos estrangeiros que permitam comparar o grau de influência dos assessores, mas, segundo Vasco Ribeiro, a situação é “semelhante” ao que se passa noutros países.

Nas nações anglo-saxónicas, o peso das fontes oficiais é provavelmente ainda maior, enquanto no Brasil as empresas de relações públicas chegam a produzir textos com vários tamanhos, preparados para encaixar em vários tipos de jornais e paginações.

De acordo com o autor da tese, as agências de comunicação têm sabido sempre adaptar-se às alterações nos jornais, ao contrário da imprensa, que reage à mudança de forma mais lenta. Vasco Ribeiro considera que esta “vantagem” torna o jornalismo mais “vulnerável” à intervenção das fontes sofisticadas.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: Arquivo JPN