A Associação Norte Vida (NV) considera que a situação no Bairro do Aleixo, no Porto, tornou-se “insustentável” durante mais tempo e rejeita as críticas dos morados à proposta de criação de uma sala de injecção assistida para toxicodependentes em fim de linha.

“É natural que haja opiniões diversas”, afirma ao JPN o presidente da NV, que entende que uma estrutura de apoio aos toxicodependentes é a única solução possível para o bairro.

Porém, Agostinho Rodrigues lembra que a Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo (APSPBA), que criticou na semana passada a instalação de uma “sala de chuto”, também esteve contra o programa de troca de seringas na altura do seu lançamento.

A ideia foi proposta a 13 de Dezembro numa reunião da associação com responsáveis do Centro Regional de Saúde Pública do Norte, com quem a NV voltará a reunir a 24 de Janeiro. A proposta será ainda discutida com a governadora civil do Porto, em data a designar.

Em comunicado, a APSPBA disse não compreender o argumento que só a instalação de uma sala de injecção assistida permitirá a “prevenção e controlo da difusão de doenças e o encaminhamento dos toxicodependentes para unidades de tratamento”.

“Aliás, pensávamos que o programa já em curso no terreno, e que passa pela troca de seringas, da responsabilidade da NV, servisse para isso mesmo”, ironizou a associação.

Agostinho Rodrigues rejeita as acusações. “Não vale a penar fazer afirmações sem provas. A programa de troca de seringas tem tido dos melhores resultados”, refere, argumentando que é o segundo programa deste tipo mais participado do país, com uma média de 500 seringas trocadas por dia.

“Atitude pragmática”

A associação de moradores do Aleixo refere que a sala de injecção assistida vai “‘guetizar’, degradar e excluir ainda mais esta comunidade”, já que “servirá para institucionalizar o consumo de estupefacientes e, até mesmo, para incentivá-lo”.

O presidente da NV, que lida com toxicodependentes no bairro há 20 anos, diz que “não é possível ‘guetizar’ ainda mais do que aquilo está”. “Ainda há bocado passei lá e estavam 80 pessoas [a consumir droga]”, exemplifica. A criação de uma “sala de chuto” é, por isso, uma “atitude pragmática” e, tratando-se uma unidade móvel, o problema da “guetização” nem se coloca.

Um grupo de técnicos que trabalha no bairro lançou, a 21 de Dezembro, uma petição na internet para apoiar a proposta. No texto, é dito que o Aleixo já não é apenas um “espaço de comércio e consumo de drogas” e que “tem recentemente vindo a assumir novos e mais graves contornos, designadamente com o aumento do número de consumidores que habitam um terreno baldio no centro do bairro e o surgimento de casos de tuberculose multi-resistente”.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Fotos: Pedro Gonzaga Nolasco/Arquivo JPN