“É já uma vitória para Portugal estar a participar no Ano Internacional Polar”. Foi com entusiasmo que José Xavier, biólogo marinho e membro do Comité Português no evento, falou com o JPN, a partir de Paris, da abertura mundial do evento científico, que pretende estudar, durante dois anos, o Ártico e a Antárctida.

O IV Ano Internacional Polar (AIP) arrancou esta quinta-feira, na capital francesa, e prolonga-se até Março de 2009, envolvendo mais de 32 nações. “O ambiente é fantástico, estou rodeado com os representantes dos 250 projectos que foram aprovados” para participar no evento, afirmou, entusiasmado, José Xavier. “Respira-se conhecimento e partilha científica”.

“É um privilégio termos uma voz activa nas questões polares e estamos a fazer história, já que Portugal está a ser representado pela primeira vez“, nota.

Gonçalo Teles Vieira, investigador do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa e igualmente membro do Comité Português, refere que a primeira participação portuguesa no AIP é uma oportunidade para “ter uma estratégia coordenada para investir nas regiões polares e para atingir muitos objectivos para a ciência portuguesa”.

Com a participação no AIP, será possível “aproximar a ciência da sociedade e chamar a atenção para a importância das regiões polares”. Nesse sentido, o Comité Português organizou o “projecto educativo Latitude60!”, com o apoio da Agência Ciência Viva.

O projecto envolve todos os graus de ensino e pretende sensibilizar os jovens para o tema, bem como as alterações climáticas, através de exposições e outras actividades multidisciplinares.
“Enaltecer as regiões polares é uma forma de conhecer melhor o nosso planeta”, sublinha José Xavier.

Glaciares e espécies marinhas

O trabalho de Gonçalo Teles vai centrar-se no estudo da crioesfera, isto é, “a camada do solo congelada”. Pretende-se “fazer uma monitorizarão do solo nesta região, acompanhar a evolução a longo prazo, relacionar com as mudanças climáticas e tentar fazer uma estimativa futura”, explica.

O trabalho do investigador será depois integrado numa rede maior para que os resultados sejam apresentados à comunidade científica em geral.

José Xavier, do Centro de Ciências do Mar da Universidade de Lisboa, lidera um projecto que “pretende conhecer melhor e avaliar a biodiversidade que existe nas regiões polares”. “A biodiversidade que conhecemos nestas regiões é maior do que nós pensamos”, revela o biólogo, que recorda que recentemente foram descobertas novas espécies.

Alterações climáticas

Um dos temas fortes do AIP é o problema das alterações climáticas. “É um dos temas centrais: perceber a relação das regiões polares e o seu contributo para as alterações climáticas”, diz Gonçalo Teles Vieira. “São das regiões mais sensíveis do planeta e que estão a sofrer muito com o aquecimento global. O derretimento dos glaciares vai influenciar o clima em Portugal”.

Além disso, “as alterações climáticas podem levar a extinção de certas espécies marinhas”, acrescenta José Xavier. “Mas, de momento, estamos a estudar novas espécies, ainda temos um longo caminho a percorrer”.

Alice Barcellos
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Foto: Nasa