Há 150 anos 129 mulheres entraram em greve e morreram queimadas dentro da fábrica de tecidos onde trabalhavam, em Nova Iorque. Em memória da tragédia, a Organização das Nações Unidas criou o Dia Internacional da Mulher em 1975.

150 anos depois, com várias conquistas (direitos políticos, acesso à educação e ao emprego, fim da discriminação com base no género, criminalização da violência doméstica), que sentido faz ser feminista hoje?

“A discriminação de género continua a existir por todo o mundo. A lista de discriminações e atentados aos direitos humanos das mulheres que ainda ocorrem todos os dias é longa: violência doméstica, violação, tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, mutilação genital, proibição de votar ou ir à escola, discriminação no emprego”, enumera ao JPN um membro do Colectivo Feminista, que pediu para não ser revelada a sua identidade.

“Portugal tem avançado bastante nas últimas décadas e as mulheres portuguesas têm mais liberdade do que as mulheres de muitos outros países do mundo, mas o nosso país ainda é muito machista, com muita desigualdade e, portanto, não podemos baixar os braços”, diz.

Feminismos, não feminismo

Manuela Tavares, que fez um mestrado em Estudos sobre as Mulheres, defende que “a simples utilização do termo ‘feminismo’ pode constituir, só por si, um obstáculo à compreensão do feminismo na sua própria diversidade”.

Segundo a especialista, deve-se ter em conta o facto de existirem diversas correntes do feminismo que marcaram historicamente a luta das mulheres. A expressão mais adequada é o plural “feminismos”, defende ao JPN.

O facto de as palavras “machismo” e “feminismo” serem semelhantes e assumirem para muitos significados equivalentes – “acham que o feminismo é o machismo aplicado às mulheres” – é uma das causas da “má imagem” do movimento feminista, aponta o membro do Colectivo Feminista.

Outra causa é o facto de “alguns meios de comunicação apresentarem imagens deturpadas e sensacionalistas das pessoas feministas ou das suas acções e reivindicações”.

“Como há pouco debate e informação sobre feminismo nas escolas e nas famílias, as pessoas raramente têm a oportunidade de ficar a conhecer mais sobre o passado e o presente deste movimento e continuam convencidas de que se trata de um grupo de mulheres enraivecidas que odeiam todos os homens e se acham superiores a eles”, afirma.