A palavra pode soar estranha, mas Carlos Santos, docente da Universidade de Aveiro (UA), simplifica o conceito: wikis são páginas da Net que podem ser modificadas por um grupo de pessoas, tirando partido da inteligência colectiva. No caso do ensino, a elaboração está nas mãos de alunos e docentes.

“São espaços de edição colaborativa que permitem que os alunos possam construir um espaço de aprendizagem e, em conjunto, conseguirem construir uma base de conhecimento colectivo”, esclarece.

Esta tecnologia, que tem na Wikipedia o exemplo mais conhecido, já é usada também noutros estabelecimentos de ensino superior, como a Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL) e a Faculdade de Psicologia e Ciências da Comunicação de Lisboa.

Na Universidade de Aveiro, as wikis existem nas disciplinas do mestrado Multimédia em Educação. Para Carlos Santos, as wikis trazem vantagens para o sistema de ensino, na medida em que possibilitam uma abertura de conteúdos produzidos a todas as pessoas. “Se as instituições ou os professores assim o entenderem”, esta ferramenta permite “abrir a construção desse conhecimento a pessoas fora do grupo mais fechado, que são os alunos que fazem parte de uma disciplina”.

“Ao contrário da cultura tradicional de reservar toda a informação que vamos recolhendo dentro de um grupo, aqui promovemos exactamente o contrário: tudo aquilo que os grupos vão investigando e construindo é partilhado, de forma a incentivar as pessoas a ver o que de melhor se está a fazer”, explica Carlos Santos.

Balanço “interessante”

Fernando Costa, professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa, também é adepto do uso das wikis no ensino.

O docente enumera várias vantagens: “Uma delas é permitir aos alunos tomarem contacto com as potencialidades que a Internet possibilita hoje: um trabalho colaborativo, feito não isoladamente por cada aluno”. Além disso, permitem “perceber o que é o hipertexto, como se constrói, porque no fundo uma wiki é isso, possibilita hiperligações” e a fuga à convencional estrutura linear na apresentação dos trabalhos.

O professor na disciplina de Tecnologias Educativas I afirma que os alunos reagiram bem à introdução desta tecnologia. No entanto, a adaptação não foi fácil. “[Os alunos] Tiveram que desaprender o processo que normalmente utilizam, por exemplo, na construção de um trabalho, para aprenderem o que é uma ligação semântica, nós de informação…”. Mas Fernando Costa realça que é na dificuldade que se verifica a verdadeira aprendizagem.

O docente fala de um balanço “interessante” acerca da utilização das wikis. Os alunos gostaram da experiência. Contudo, não foi fácil trabalhar em equipa. “Apesar dos esforços para trabalharem de forma colaborativa, cada um trabalhou mais autonomamente do que seria esperado”, revela.