O júri atribuiu-lhe a classificação máxima há três dias. Antes, porém, a tese de mestrado de Luís Lourenço já havia sido premiada com um “muito bom” por parte daquele que, muito provavelmente, melhor saberá avaliá-la. Ele mesmo: José Mourinho. “Gostou muito, disse que estava muito bom, que era uma excelente oportunidade para as pessoas pararem de dizer algumas asneiras sobre ele”, revela o ex-jornalista da TSF e agora mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Católica.

Luís Lourenço admite que o facto de conhecer bem Mourinho, que foi presença constante, ainda que à distância, durante os dois anos e meio que Luís Lourenço dedicou à tese, facilitou o trabalho, sobretudo durante a fase de pesquisa. Facto que levou o júri a colocar a questão do distanciamento necessário num estudo como este. “Em termos científicos tentei distanciar-me o máximo possível. Penso que o consegui”, diz ao JPN.

Na tese intitulada “Uma investigação sobre o fenómeno da liderança e a operacionalidade da perspectiva paradigmática da complexidade”, o ex-jornalista dá novas pistas para ajudar a compreender a ascensão meteórica e capacidade de liderança do “Special One”.

Liderar para vencer

“Carismático, transformacional e emocionalmente inteligente”. Luís Lourenço traça em poucas palavras o perfil da liderança de Mourinho. Na sua actividade de treinador, essa capacidade para liderar reflecte-se no seu comportamento e nas suas atitudes.

Entre as características “extremamente poderosas” e incontáveis de Mourinho, Luís Lourenço destaca a capacidade de trabalho – “é capaz de trabalhar 20 horas por dia” -, a autoconfiança, o autoconhecimento e a capacidade de se projectar permanentemente para o futuro.

“Os troféus e os prémios que conquistou já não contam para ele, mas antes o que ele ainda não ganhou e o que quer ganhar. No momento em que ele ganha um troféu, ele já está a pensar no próximo”, exemplifica.

É esta “característica fantástica”, a maneira como se posiciona na vida e no mundo, que faz de Mourinho um figura e um líder ímpares, defende Luís Lourenço.

“Líder sempre presente”

Lourenço aponta ainda a “presença constante” como outra qualidade da personalidade do treinador setubalense. “É um líder sempre presente, que está sempre à mão dos seus liderados, não só em termos disciplinares, mas também de motivação e até paternais” defende. “E ele sabe que os seus liderados têm necessidade da sua presença. Um olhar basta para tudo se transformar”, acrescenta.

Na óptica do autor, a postura arrogante, fria e calculista por vezes adoptada por Mourinho faz parte da sua capacidade para liderar, “para defender os seus seguidores e libertá-los da pressão”.

Estaremos perante um novo tipo de líder? Luís Lourenço acredita que sim, porque “é um modelo de liderança que decorre de um novo modelo de acção humana, ou seja, ele [Mourinho] agarra-se à perspectiva da complexidade para operacionalizar todo o seu trabalho, no qual a liderança se inclui”. Neste sentido, o ex-jornalista considera que “estamos perante uma maneira diferente de desenvolver uma actividade profissional”.

Por apurar está a eterna questão que nem os mais conceituados teóricos conseguem responder. A liderança do treinador português é inata ou construída? Luís Lourenço avança com uma resposta: “Tal como os outros líderes, o José Mourinho nasceu com características que poderiam guindar a um estatuto de líder, mas ao longo do tempo foi apreendendo outras e desenvolvendo todas elas, de modo a tornar-se o líder que é hoje”.