“Catástrofe”, “estado de sítio”, “situação dramática” são algumas das expressões que os responsáveis de algumas companhias usam para descrever o estado teatro no Grande Porto, no dia em que se comemora o dia mundial da actividade.

Desde 1999 que o Teatro Experimental do Porto (TEP) mudou as suas instalações para Vila Nova de Gaia. Uma situação que, para Júlio Gago, responsável pela companhia, se deve ao desfasamento relativamente àquilo “que são as necessidades básicas da população em termos de fruição dos bens culturais”.

Depois de 46 anos no Porto, o TEP saiu da cidade devido a litígios com o então presidente da Câmara, Fernando Gomes. Há oito anos em Gaia, Júlio Gago afirma que “a situação é bem diferente, dado que há um bom apoio da autarquia, que permite que o teatro se possa continuar a afirmar, como tem vindo a acontecer com o Teatro Experimental do Porto”.

Para o responsável, o regresso ao Porto não é uma opção. “Não será de forma alguma uma opção e, face à situação actual, seria totalmente impensável”, esclarece.

José Leitão, director da companhia de teatro Art’Imagem, é peremptório ao afirmar que o teatro do Porto vive tempos de “catástrofe”. “Parece uma palavra forte, mas a verdade é que é assim que a situação está”. Para o responsável, esta conjuntura deve-se ” à falta de apoio deste Executivo, que pôs de lado as questões culturais, e que nem sequer tem capacidade para dialogar com os agentes culturais da cidade. A situação chegou a um ponto de estado de sítio”.

A companhia Art’Imagem enfrentou já a hipótese de fechar as portas. Muitos dos espectáculos desta companhia são feitos na Maia, uma opção justificada por José Leitão. “Estamos fora do Porto, porque enquanto o Porto não mudar a sua maneira de trabalhar, ou de não trabalhar, com a cultura, cada vez mais vai ser um deserto cultural”.

No entanto, o director rejeita a hipótese de abandonar a cidade. “Não ponderamos a opção. Não será um presidente da Câmara que nos vai afastar da cidade do Porto. Nós somos do Porto e é no Porto que queremos trabalhar”, explica.

“Os tempos nunca foram de bonança”

“Os tempos nunca foram de bonança”. É assim que António Reis, um dos directores da Seiva Trupe, descreve o estado do teatro no Porto. Os baixos apoios concedidos às companhias de teatro, refere, limitam-se a penalizar o espectador. Havendo menos dinheiro para cenários, figurinos, materiais e tecnologias, “quem perde é o espectáculo e quem perde é quem o vê”, afirma.

Para António Reis, os 35 anos da Seiva Trupe conferem à companhia o “‘know how’, o capital de conhecimento acumulado e uma experiência”, que permitem ultrapassar as dificuldades e responder na mesma moeda: a quem nos ignora, nós também ignoramos totalmente”, esclarece.

O responsável da companhia lembra que o Dia Mundial do Teatro, que se assinala esta terça-feira, é um dia de festa, mas também de luta.