Anos atrás foi cavalaria, caserna militar, armazém da alfândega, até ser o que é hoje, uma igreja – a Igreja de São Francisco. Demorou dois séculos para ser construída e poder ser reconhecida pelo trabalho em madeira e da talha dourada. “Em termos artísticos tem um valor incalculável”, diz o jornalista e historiador do Porto, Germano Silva. O estilo barroco que a caracteriza, segundo Analdina Rocha, técnica superior de museologia da igreja, “é uma coisa única”.

Tutelada pela Ordem Terceira de São Francisco, a igreja está entre as 21 finalistas do concurso “7 Maravilhas de Portugal”. Analdina Rocha afirma ter ficado “surpreendida” com a escolha. Sabe o valor artístico que o monumento possui, mas reconhece que a igreja é pouco conhecida em Portugal e mais internacionalmente.

A igreja recebe 200 mil visitantes por ano, maioritariamente estrangeiros, e mostram não ter condições para receber mais. A técnica de museologia lamenta que os portuenses não saibam que a igreja está a ser votada no concurso, mas acrescenta que a Câmara do Porto faz “pouca divulgação do espaço”. Para além de apelarem ao voto aos visitantes e dos cartazes afixados, Analdina Rocha diz não poderem “fazer mais”, porque não têm “capacidade para dar resposta a tudo” o que lhes pedem e “ainda não há a tradição de fazer grande divulgação dos eventos”.

“A cidade deve orgulhar-se desta escolha”, refere. No entanto, lamenta que a Câmara do Porto não tenha participado mais. Analdina mostra que a autarquia “devia ter feito mais divulgação” porque nas outras cidades é mais visível a presença de informação sobre o concurso. “No Posto de Turismo não há nenhuma alusão às Sete Maravilhas”.

“Portuenses começam a tomar consciência da importância dos monumentos”

Considerada o ex-líbris da cidade do Porto, a Igreja e Torre dos Clérigos tem mais visibilidade. Com 225 degraus e 76 metros de altura, a torre não passa despercebida. “A Igreja e a Torre dos Clérigos estão mais à vista, saltam aos olhos de quem por ali passa ou até de quem anda por longe e vê logo a Torre”, enquanto a Igreja de São Francisco “está mais escondida”, descreve Germano Silva.

Para Valdemar Pinto, pároco da Igreja dos Clérigos há 30 anos, a presença entre as 21 finalistas do concurso é o “reconhecimento do valor artístico da Igreja e da Torre dos Clérigos”. O aumento do número de visitas é uma das principais consequências da distinção, diz.

Mesmo que nenhum dos monumentos seja seleccionado, Gemano Silva mostra que “vai ser muito proveitoso” para a cidade. O historiador acredita que “os portuenses começam a tomar consciência da importância dos monumentos”. O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios assinala-se esta quarta-feira.

A presença nos roteiros turísticos funciona como íman para os turistas, apontam Germano Silva e Analdina Rocha. A nomeação destes dois locais para as Sete Maravilhas de Portugal “é sempre importante para a cidade e para os próprios monumentos”, conclui o historiador.