25 de Abril é muito mais do que uma data. A Revolução dos Cravos, que derrubou o regime ditatorial que vigorou por 48 anos em Portugal, traduziu-se em mudanças profundas em todos os sectores da vida social. Com a imprensa não foi diferente. A revolução deu voz à comunicação social, tornando possível tratar de temas e mencionar personalidades que, de outra forma, permaneceriam no obscurantismo.

“Antes do 25 de Abril, a censura controlava tudo o que se passava na área do pensamento”, explicou ao JPN o director do “Jornal do Fundão”, Fernando Paulouro Neves. O director acredita que a revolução trouxe “mudanças radicais, que trouxeram uma nova forma de encarar o jornalismo”.

Sob a repressão de uma ditadura, os meios de comunicação social lutavam para informar a sociedade, lidando com todo o tipo de entraves que a censura lhes colocava. Rádio, televisão ou imprensa, todos acabaram por sentir “na pele” o risco do lápis azul. “Hoje podemos ver as provas materiais da destruição da censura, como os cortes, a forma como as notícias eram manipuladas ou distorcidas no seu sentido” e como alguns assuntos eram eliminados, “porque não se podia falar deles”, refere.

O director do “Jornal do Fundão” crê que a imprensa sofreu mais com a censura do que os meios audiovisuais, uma vez que os jornais, pela sua periodicidade, tinham “confronto mais próximo com o mecanismo repressivo”. Paulouro crê que essa perseguição foi vital para o jornalismo português, “tendo deixado muitos traumas”.

A imprensa escrita, enquanto “matéria mais durável, que permite pensar no que se está a ler”, segundo Fernando Paulouro Neves, tornou mais fácil a passagem de mensagens “nas entrelinhas”. Por essa razão, ainda perduram na memória as “matérias que eram críticas explícitas ao regime”, em órgãos como “O Diário de Lisboa”, ainda que fossem feitas em linguagem “muito cifrada”.

Apesar de antes da revolução já existirem cartas do leitor, a censura estava particularmente atenta a essa forma de “reclamar”. Tal como afiança Fernando Paulouro, “era uma secção muito visada, porque o regime tinha a ideia de que era bom impedir que os críticos se reproduzissem”. Havia assuntos “totalmente proibidos”, como temas ligados a sindicatos ou “custo de vida”. As cartas eram muitas vezes sobre “críticas a instituições locais” ou a temas quotidianos, “não eram dirigidas ao poder instalado em Lisboa”.

Sobrevivência no Estado Novo

Numa época em que a comunicação social estava “de costas voltadas” para o poder, como seria possível sobreviver? Fernando Paulouro esclareceque “os jornais portugueses que viviam da assinatura e não da banca e que tinham outros meios assentavam também numa base fundamental, a da publicidade, que alguns jornais regionais também tinham”.

“Na altura, a estrutura dos jornais portugueses era muito diferente”, pois embora muitos estivessem integrados em grupos económicos, “não havia o processo de concentração que se verificou depois”, nota o director do “Jornal do Fundão”.