O calendário marcava o dia 25 de Abril de 1974. Abel Couto, professor, entrou no Liceu Garcia de Horta, no Porto, como se de um dia qualquer se tratasse, pronto para dar aulas. Longe estava de imaginar que essa data ficaria marcada na história como a Revolução dos Cravos.

Mais de 30 anos depois, o professor de português e francês, agora reformado, afirma que o 25 de Abril não soube tirar partido das potencialidades da sociedade de então. “O 25 de Abril não soube aproveitar o que de bom havia”, adianta.

Professor durante mais de 40 anos, Abel Couto refere que muitas das promessas não chegaram a sair da gaveta. “Nós discutiamos muito, nas línguas vivas, a necessidade de uma sala especial” com equipamentos e tecnologia para a aprendizagem da fonética. “Havia a sala, mas não tinha absolutamente nada”.

Abel Couto acredita que que há uma clara diferença entre os alunos do antes e pós-25 de Abril. A falta de empenho é uma das características que marca os alunos de hoje. “Aquele que fazia o antigo sétimo ano e entrava na faculdade, se não houvesse nenhum obstáculo, sabia que no fim tinha a sua licenciatura, fiável, muito fiável, e sabia que tinha lugar no mercado de trabalho. Depois do 25 de Abril as coisas modificaram-se. A dúvida [do aluno] se tem ou não emprego persegue-o”, explica.

“O aluno deixou de se empenhar”

Em consequência destas transformações sociais, o docente afirma afirmahaver um desinteresse por parte da comunidade estudantil. “Não tem nada a ver o interesse que o aluno punha [nos estudos] antes e depois do 25 de Abril”.

“O aluno empenhava-se mais, até porque havia maior rigor e exigência do que há agora”. No entanto, nos dias de hoje, “o sistema escolar está de tal modo degradado que o aluno apercebe-se rapidamente que não são precisos grandes esforços”. “O aluno deixou de se empenhar”.

Abel Couto adianta que antes do 25 de Abril se chegava ao fim do curso “com uma mão cheia de conhecimentos e com consciência daquilo que, não sendo muito, mas do pouco que se sabia, sabia-se a sério.”

Apesar de todas as transformações sociais provocada pela revolução de Abril, o então professor confessa não ter tido dificuldades em adaptar-se à nova conjuntura. Manter-se fiel a princípios como o “respeito pelo outro, a dignidade no trabalho e estar ao serviço dos outros” ajudou-o a adaptar-se aos novos tempos.