O “Museu do Abate” está patente na Galeria Cozinha, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto até 4 de Maio, e pretende dar uma “morte digna” a computadores e outros aparelhos a que a evolução deu substitutos. A exposição, da autoria do grupo QB Design, formado por quatro finalistas do curso de Design de Comunicação, dispõe na galeria engenhos como fotocopiadoras antigas, computadores ultrapassados, entre outros.

Os equipamentos representam “para alunos e professores, uma memória colectiva. Está presente uma dimensão política e outra ecológica”, referiu Adriano Rangel, professor e membro do departamento de Design da FBAUP.

“A pior morte não é a física, mas sim a amnésia”, referiu Heitor Alvelos, professor da Faculdade de Belas Artes e responsável pelo departamento de Design. A exposição é uma tentativa de recuperar os objectos, uma reflexão sobre outros modos de pensar a produção de imagens e o que fazer com estes “cadáveres”.

As obras expostas fazem parte de trabalhos dos alunos. Trata-se de “um exercício que reflecte sobre preocupações ambientais, mas também sobre até que ponto vale a pena abater as tecnologias aqui representadas”, esclareceu Heitor Alvelos.

Clara Morão, Ricardo Castro, Patrícia Cunha e Catarina Gomes, os quatro membros do QB Design, concordaram com as palavras dos docentes. Em declarações ao JPN, os estudantes revelaram que o museu pretende “mostrar em que sentido podemos dar dignidade a objectos que já não são do uso corrente e como podemos desfazer-nos deles de uma forma digna”.

O grupo pretende também realçar o impacto que as mudanças tecnológicas tiveram em aparelhos como computadores, alterações de que muitas vezes os estudantes não se apercebem. “Existem muitas coisas aqui de que nem nós tínhamos conhecimento”, afirmam, lembrando que para os estudantes que entram agora na faculdade “ainda mais longe está essa imagem”.

De acordo com o QB Design, edificar o “Museu do Abate” exigiu não só investigação como até “trabalho físico”. A “dicotomia entre analógico e digital” permite ver como o segundo é “mais pesado, em vários sentidos” do que o primeiro. O facto de os aparelhos estarem “abandonados, e em fraco estado de conservação exigiu uma limpeza, além da necessidade de serem transportados para outros lugares”.

O grupo nota que este trabalho requereu “uma fase de estudo e de teoria, para perceber o que tinham sido aqueles objectos, além de questões ambientais, como a fase do ‘pós-abate'”.

Uma boa razão para visitar o “Museu do Abate” é, de acordo com os criadores, “conhecer a tecnologia do passado recente e confrontá-la com a realidade e reparar que tem evoluído muito rapidamente”. A questão ambiental salta à vista: “A tecnologia não é desperdiçável”, rematam.