O melhor local para o aeroporto, na sua opinião, é a Península de Setúbal? Nunca na parte norte?

Sim. Pode ser na actual base aérea do Montijo, no Poceirão ou noutra zona qualquer. Tenho a certeza que na Península de Setúbal há espaço para fazer um segundo aeroporto. A norte é um perfeito disparate. Se Lisboa vai estar a 1h15 do Porto em TGV, alguém que esteja, por exemplo, em Coimbra, vai ter sempre duas opções: apanha o avião no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, em que vai demorar 45 minutos, ou então vai de TGV até Lisboa e depois demora meia-hora a chegar ao novo aeroporto. Então, para que é que estamos a aproximar dois aeroportos? Não nos interessa nada.

Então continua a defender a solução “Portela + 1”? Os estudos mostram que a Portela, mais cedo ou mais tarde, vai esgotar a sua capacidade…

O facto de os aeroportos esgotarem não é mau, muito pelo contrário. Aumenta o preço até. Por outro lado, a modernização do Aeroporto da Portela vai custar 500 milhões de euros, estando pronta em 2011. Depois dizem que em 2015 pega-se naquilo tudo e deita-se fora. Por isso, fazer isto é uma idiotice, um crime político e económico. A solução seria esgotar a capacidade da Portela e construir-se um segundo aeroporto que fosse crescendo. Tal como acontece em Barcelona, onde o Aeroporto de Girona destina-se aos “low cost” e vai crescendo, porque o de Barcelona não pode crescer por estar situado numa zona portuária.

Mas nesse caso a Portela não perderia competitividade?

Não, vai manter. Vão ser sempre “sete cães a um osso”. O interesse dos aeroportos é que estejam perto da cidade, tal como os passageiros, e o que as companhias querem é trazer passageiros.

Como é que avalia a acção do Governo neste assunto?

O Governo tomou uma decisão política de construir na Ota, que é errada, e que vai insistir nela. Quais são as razões, não sei.

Com a construção do Aeroporto da Ota e a privatização da ANA, defende uma gestão regional para o Aeroporto Sá Carneiro. Porquê?

O que não defendo é a solução que o Governo optou. Já percebeu que a Ota é uma má localização, que vai ficar muito vulnerável à concorrência do Aeroporto Francisco Sá Carneiro. E então, encontrou um modelo de privatização da ANA em que, quem construir a Ota, leva de rebuçado o Sá Carneiro. Isso é a maior prova de fragilidade do Governo relativamente à Ota, mas isso pode matar o Aeroporto de Pedras Rubras.

Acredita mesmo que a ANA vá fragilizar os outros aeroportos em benefício da Ota?

Não se trata de acreditar, isto está escrito. O Governo já fez aprovar em Conselho de Ministros o modelo de privatização em que a ANA acompanhará o projecto de concessão do novo aeroporto de Lisboa. Obriga a constuí-lo na Ota. Isto quer dizer que quem ficar com a Ota, fica com a gestão total da ANA. Retiram-lhe o que não é bom, os Açores, e entregam-lhes o do Porto e o de Faro. Isto não é uma hipótese e os deputados socialistas do norte devem ter vergonha de não contestar isso.

Apenas Francisco Assis é que chamou a atenção…

Só que foi interpelar a JMP e dizer que ela é que tinha que ficar com a gestão do aeroporto. E a JMP vai fazer o quê? Apontar uma arma ao primeiro-ministro e dizer dá cá o aeroporto?

Falta coragem política a Francisco Assis?

O problema é que foi colocar a questão a quem não tem capacidade de decisão. O doutor Assis tem que falar publicamente e com os deputados do PS. Esta é uma questão política, de interesse público, que vai obviamente prejudicar a população. Os políticos são eleitos para lutar pelo interesse público.

Deveria ser a JMP a gerir o aeroporto?

Quando falamos em gestão, deve-se pensar em duas coisas. Há uma função, que é a da propriedade do aeroporto. E quem tem que ser proprietário tem que ser o Estado numa das suas vertentes. Depois há toda a questão dos aspectos relacionados com a segurança, os interesses estratégicos de um aeroporto, que têm que ser geridos por modelo privado, como acontece na Administração do Porto de Leixões (APDL). Agora se me perguntar se a “APDL do Francisco Sá Carneiro” deveria ser gerida pela JMP, com certeza. Mas não seria o concessionário.

Mas numa altura em que o Governo quer assumir a gestão da Empresa Metro do Porto isso parece pouco provável…

É, mas isso não quer dizer que nós não continuaremos a insistir num modelo que é praticado noutros paíse e que nos parece muito razoável.