Como é que estão as relações da Associação Comercial (ACP) com a Câmara do Porto (CMP) e Rui Rio?

Excelentes. Posso dizer-lhe que Rui Rio foi convidado de honra para o jantar de aniversário. Fez aqui uma intervenção muito interessante. Além disso, devo dizer que as minhas relações pessoais com Rui Rio, ao contrário do que possam imaginar, são boas.

Então, já mudou a sua opinião relativamente a Rui Rio? Em 2004, acusou-o, por exemplo, de não gostar do Porto.

A questão não é mudar de opinião ou não. Rui Rio ganhou as eleições, é presidente da câmara e neste momento não é candidato a nada. Enquanto presidente da CMP, a ACP vai procurar ter com ele as melhores relações. Uma coisa absolutamente diferente é a relação entre a associação e a autarquia, que se pauta pela total independência e pela absoluta normalidade. É perfeitamente normal que uma instituição como a nossa, e principalmente com os associados que temos, haja momentos em que, relativamente a algumas políticas da CMP, discorde.

Nessa altura, referiu também que o Porto não iria aguentar mais cinco anos com Rui Rio…

Eu não estava a pensar que o Porto se ia propriamente afundar, desaparecer. Agora, quanto à situação actual da cidade do Porto, isso deixarei que sejam os portuenses a julgar.

Que avaliação faz deste segundo mandato de Rui Rio?

Passou a assumir um papel que sempre defendi, que é o de presidente da Junta Metropolitana do Porto (JMP), porque o Porto pode não ser a maior cidade da Área Metropolitana, mas é o coração dela. Sempre entendi que a partir do momento em que o Porto desempenhasse esse papel, isso iria permitir um maior protagonismo da JMP, como tem acontecido. Nessa medida, penso que Rui Rio tem tido um papel muito mais activo a favor da região – deixou de olhar tanto para os meandros daquela cidade pequena que é o Porto e tem hoje uma visão metropolitana que favorece o crescimento da cidade, da JMP, e que logicamente favorece a sua acção política.

Admitiu também nessa altura que não descartava a hipótese de se candidatar à CMP. As autárquicas de 2010 estão no seu horizonte?

Posso garantir-lhe que daqui a três anos não serei candidato à CMP.

Parece haver falta de líderes no Porto…

Não sou da opinião de que o Porto tenha falta de lideranças. Acho que isso é a cidade que se amarfanha a si próprio com esse argumento. Basta reparar nas várias actividades: na área científica é indubitável que o Porto continua a ter lideranças a nível nacional; na cultura e nas artes nem é preciso falar; na área dos negócios e das empresas, por muito mal que se diga, os dois maiores empresários do país são do norte.

Mas na área política…

Isto tem muito a ver com a forma como ela é conjugada em Portugal – enquanto ela for centralista, é natural que haja essa atracção. O que acontece muitas vezes é que para haver uma maior afirmação da liderança política, as pessoas têm que se aproximar da capital e acabam por raciocinar no espírito da capital. Mas eu acho que em qualquer altura pode surgir uma liderança do Porto num dos principais partidos. E estou a ver três ou quatro personalidades portuenses que podem ser candidatos à liderança do PSD se essa um dia se colocar, como o doutor Rui Rio, Luis Filipe Menezes ou José Pedro Aguiar Branco… Aliás, dentro do Governo há três ministros do Porto e duvido que haja três que sejam de Lisboa.