Porque é que diz, relativamente ao TGV, que as prioridades do Governo não obedecem a critérios que não os de desenvolvimento económico?

Quando o Governo deixou que os espanhóis impusessem Madrid-Lisboa como a linha prioritária, aceitou que Lisboa fosse colocada ao nível de uma capital provincial espanhola. E um dia vamos pagar o preço: as competências que fugiram do Porto para Lisboa há 10 anos atrás, qualquer dia fogem para Madrid usando o TGV.

Em termos das linhas, quais devem ser, então, as prioritárias?

Aveiro-Salamanca, porque escapa exactamente à lógica radial de Madrid. Com esta linha, a ligação da frente atlântica estava garantida, porque já há uma ligação Salamanca-Madrid. E ao chegar a Salamanca podia também ir para Burgos e daí para França. Era isso que nos devíamos ter proposto.

E a ligação Porto-Vigo, como é que fica?

Em terceiro lugar. A segunda prioridade seria a fachada Atlântica que podia ir até Setúbal e um dia ao Algarve. Aí era preciso pegar naquilo que já existe e transformar aquilo num comboio mais rápido. Podia não ser necessariamente um TGV. No fundo deve haver uma linha vertical e outra horizontal. E se quiserem fazer Lisboa-Madrid, façam, mas para mim é a menos importante.

Para o Governo é a prioritária…

Se o Governo já resolveu que vai fazer a linha Lisboa-Madrid por Badajoz, entrando pela margem sul, então faria sentido que ela servisse de “hub” [nó] para levar os passageiros até ao aeroporto de Lisboa. E se o Governo acha que o aeroporto vai algum dia concorrer com o de Madrid, o que é uma parvoíce, ao menos seja coerente e construa-o junto ao TGV. É uma coisa absolutamente lógica e evidente.