O Festival de Teatro “Fazer a festa” começa esta noite e vai dividir-se pelos jardins do Palácio de Cristal, pelo auditório da Biblioteca Almeida Garrett e pelo Teatro Carlos Alberto (TeCA). O conjunto de espectáculos vai ser exibido até 13 de Maio.

“Fulgor e Morte de Joaquín Murieta”, de Pablo Neruda, é o espectáculo mais direccionado para assistências adultas e é a única peça do “Fazer a Festa” que estará no Carlos Alberto. José Leitão, director artístico do evento, justifica ao JPN a escolha da peça para abrir o festival: “Neruda é um vulto da cultura mundial. Este espectáculo é o teatro em estado puro, é a poesia feita palavra. É um olhar actual sobre a imigração”.

O evento, organizado pelo Teatro Art’Imagem, inclui 14 espectáculos diferentes apresentados por 15 companhias (há uma co-produção) num total de 27 representações.

A organização lamenta a falta de apoios por parte do Instituto das Artes (IA). O apoio esperado viria da Câmara do Porto e das “promessas falhadas” do IA e Ministério da Cultura. O festival é apoiado pelo Teatro Nacional de S. João, Teatro D. Maria e delegação norte do Ministério da Cultura.

José Leitão faz um balanço pouco optimista por altura do 26.º aniversário do festival. “Desde 2001 que o festival tem vindo a perder apoios públicos, nomeadamente aquele que era o principal, o da câmara”, diz.

“Tivemos que mudar o figurino, programar menos espectáculos e abolir as noites do Palácio de Cristal, que eram uma das marcas do festival”, prossegue. “O público merece que as entidades responsáveis não deixem cair aquele que é um dos acontecimentos que singulariza o Porto” no panorama artístico nacional. José Leitão responsabiliza a Câmara do Porto e o Governo pelo pouco apoio prestado ao festival. “Teimosamente, o Art’Imagem tenta aguentar o barco”, confessa.

“Este ano, ao contrário das habituais cinco ou seis companhias estrangeiras, só trazemos duas, ambas espanholas”. Ambas as presenças estão asseguradas, conta José Leitão, pela ajuda da delegação norte do Ministério da Cultura. “De outra forma, não seria possível. O orçamento de que dispomos – 40 mil euros – é absolutamente irrisório”. O responsável considera “ridículo” apresentar estes números “como custo de um festival”.

O director não esquece os “comprometimentos” do IA e do Ministério da Cultura para um financiamento “como deve ser” para as próximas edições. Para José Leitão, “o ‘Fazer a Festa’ é um festival que cativa públicos”, pelo que não deveria acabar.

“Temos o apoio do Instituto das Artes, mas é muito pequeno e não é quantificado, está diluído no apoio às restantes actividades da companhia”, concretiza o director. Os valores fornecidos pelo ministério “englobam três produções anuais e o festival”. A ajuda do IA canaliza cerca de 30 mil euros para a organização do festival, o que é “uma ninharia”, nas palavras de José Leitão, comparativamente a outros congéneres portugueses.

“Desde Janeiro esperamos um reforço do IA para o festival, que nos foi prometido e ainda não chegou”. Supostamente, “o IA iria realizar um concurso para atribuir verbas” mas tal não aconteceu, por motivos que o director “desconhece”.

IA rejeita culpas

Contactado pelo JPN, o subdirector do IA, Orlando Farinha, rejeita as críticas. “Uma coisa é terem pedido um reforço de verbas que não foi, até agora, atribuído; outra coisa é dizer-se que houve uma redução de verbas, que não houve”, defende.

“O Teatro Art’Imagem recebe 95 mil euros por ano, para a actividade do teatro e para o ‘Fazer a Festa’. Este é o 3º ano em que eles recebem este valor”, sublinhou Orlando Farinha. “Talvez estejam a perder apoio da Câmara do Porto, mas da nossa parte não”, rematou.