Responsável do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante do Porto destaca evolução na forma como os imigrantes são retratados na comunicação social.

Neila Karimo, responsável do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) do Porto, crê que a mentalidade portuguesa em relação aos imigrantes não é das mais severas. Até na comunicação social, “a linguagem que era utilizada há uns anos já foi bastante melhorada”, nota.

“No Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) há um grande trabalho para sensibilizar a comunidade portuguesa para a integração dos imigrantes e também a comunicação social, na questão da linguagem e de como se passa a imagem deles”, afirma.

“Já não se usam títulos como ‘Cidadão de raça negra mata…’. Não quer dizer que não possa melhorar – aliás, o ACIME tem um prémio de Jornalismo pela Tolerância”. No cômputo geral, a responsável do CNAI do Porto acredita que “há uns anos a imigração era mencionada de uma forma muito mais pesada do que hoje em dia”.

E Portugal, é um país racista? “Em termos globais, comparativamente com outros países que já conheci, como a Alemanha e a França, no meu entendimento, o nosso país não é racista”, refere Neila Karimo, que acredita que “a discriminação face aos imigrantes tem muito a ver com a escolaridade”.

“Portugal, comparativamente à restante União Europeia, ainda é um país com níveis de analfabetismo elevados. Ainda não somos um povo de mentalidade muito aberta”, diz. “Apesar de termos sido muito tempo um país de emigração, estávamos habituados a receber apenas as pessoas das ex-colónias. Até há uma década não havia cá muitos brasileiros. De repente tivémos uma primeira vaga de brasileiros, com alguma qualificação, depois uma segunda vaga com uma qualificação muito baixa, e depois temos a dita imigração de leste”.

“Evidentemente, não estávamos habituados a receber imigrantes. É uma questão de adaptação, que vai levar algum tempo. Quando começámos a receber imigrantes de leste, o país estava numa conjuntura económica um pouco difícil. O entendimento que se faz geralmente é que os imigrantes vêm retirar postos de trabalho, o que não é real”, salienta.

O apelo para dar o devido valor às comunidades imigrantes é contínuo. Qual a melhor forma de o fazer? “Valorizar os imigrantes parte muito do entendimento político que se tem da questão da imigração. Há dados que dizem que os imigrantes têm sido uma mais-valia para o país, em termos económicos, trabalhando em sectores onde faltam portugueses a trabalhar”, esclarece Neila Karimo.

“São uma peça fundamental para o país, mesmo em termos culturais. Enriquecem de várias formas a sociedade. Para valorizá-los, tem de haver um entendimento político de que são de facto importantes. A partir daí há medidas a tomar, como programas específicos, leis que facilitem o reconhecimento de diplomas e equivalências”, entre outros.