“É um momento único, inesquecível”. As palavras são de uma finalista de Medicina da Universidade do Porto (UP), que viveu o último cortejo da sua vida académica, mas são certamente partilhadas pelo mais de 90 mil estudantes que esta terça-feira desfilaram pelas ruas da Baixa do Porto, naquele é o momento mais alto da Queima das Fitas.

15h, Rua D. Manuel II. À hora marcada, no local do costume, os estudantes já começavam a afinar as vozes com os tradicionais cânticos afectos aos seus cursos numa competição saudável entre as faculdades para apurar a mais barulhenta de todas.

O prémio, esse, seria difícil de atribuir: se se cantava “é Letras quem manda aqui”, ouvia-se de pronto “Engenharia, Engenharia” ou “Amo Ciências…”. Em frente aos carros alegóricos que dão cor e animação ao desfile, caloiros, fitados e finalistas amontoavam-se e esperavam ansiosamente pelo início da caminhada em que a academia se apresenta à cidade.

“Que seja o melhor de sempre, não voltamos a viver uma coisa destas”, confessava ao JPN João Garção, para quem este momento foi o culminar de quatro anos a estudar Economia na UP.

E para ajudar à folia, eram muitos aqueles que não dispensavam o álcool, que nestes dias é sempre “o amigo inseparável”, como dizia a caloira Mariana Magalhães.

15h30, tudo a postos para o início do desfile. Os veteranos da academia dão os primeiros passos em direcção à Rua da Restauração, onde muita gente, debaixo de um sol abrasador, aguarda para ver de perto os primeiros minutos de uma festa já com décadas de tradição, mas que, para muitos, era a primeira a que assistiam “in loco”.

“É espectacular, nunca pensei que tivesse tanta gente”, exaltou Paulo Santos, que, de câmara na mão, tentava registar para a posteridade os primeiros momentos da estreia no cortejo do primo João, estudante de Engenharia.

“Um momento ímpar, num ano de muitas mudanças”

Em frente à Câmara do Porto, milhares de pessoas desesperavam pela chegada do cortejo, sobretudo os pais, que não se cansavam de ligar para os filhos estudantes a perguntar se a demora ia ser grande. O que só veio a acontecer por volta das 18h, quando a Avenida dos Aliados já se apresentava cheia e colorida pelas cartolas cor-de-laranja distribuídas por um conhecido operador de comunicações móveis.

As faculdades de Medicina, Ciências e Engenharia foram as primeiras a passar pela tribuna, onde se encontravam, como é hábito, figuras ilustres da cidade como o reitor da UP, Marques dos Santos, e o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, que não se escusaram a dar as tradicionais três bengaladas nas cartolas dos finalistas, logo procurados pelos familiares para tirar a fotografia da praxe.

Visivelmente emocionada, Carla Moreira, finalista de Ciências, descreveu a passagem pela tribuna como “um momento ímpar, num ano de muitas mudanças”. “As perspectivas de emprego é que não são boas”, acrescenta a colega Sara Peixoto.

Mas o dia é de festa e ela continuaria no Queimodrómo, com lotação esgotada, ao som da música popular de Quim Barreiros e Fernando Pereira, porque, como se ouvia entre os estudantes, “a noite ainda é uma criança”.