Em Portugal, 12,4% das pessoas diagnosticadas com o vírus VIH/sida tem mais de 50 anos. A conclusão do mestrado dos enfermeiros António Dias, Sara Fonseca, Pedro Renca e Elsa Silva, realizado em 2005, chamou a atenção de alguns profissionais de saúde que, no ano seguinte, se lançaram num levantamento a nível nacional.

Os resultados vão ser divulgados e apresentados em livro, nesta quinta-feira, no 2.º Congresso Pandemias na Era da Globalização, a ter lugar em Aveiro.

A tendência é para o aumento do número de casos nos grupos idosos. Uma das explicações para o facto é a mudança da sexualidade. Em termos quantitativos, o número de idosos portadores do vírus da Sida em 2002 e 2003 é superior aos casos registados entre 1983 e 1993.

Ao JPN, Meliço Silvestre, director do Departamento de Doenças Infecciosas nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), classificou a situação de “preocupante”. Entre as causas está o aumento da sexualidade tardia por via de novas drogas como o Viagra numa altura da vida em que as pessoas começam a “desligar-se das ideias preventivas”, referiu.

Em Portugal, não houve uma aposta em campanhas sobre o uso do preservativo na sequência da prolongamento da vida sexual dos idosos. O congresso de Aveiro pretende sublinhar a necessidade de uma prevenção apontada às faixas etárias mais altas.

Quando a doença surgiu, as primeiras campanhas de prevenção visavam sobretudo os homossexuais e os toxicodependentes, grupos mais associados com o VIH. Como resultado, “nunca foi dada grande importância e atenção” ao grupo etário mais idoso. “A sida pode aparecer em qualquer situação desde que haja um comportamento de risco e numa idade mais avançada”, recorda Meliço Silvestre.

Por outro lado, os próprios diagnósticos são demorados, não havendo, por vezes, a detecção da verdadeira causa. Os profissionais de saúde confundem os sinais da doença com sintomas próprios do processo de envelhecimento dos pacientes.

A actual realidade é uma característica própria dos países mais desenvolvidos. “Há mais acesso a essas drogas que potencializam a sexualidade”, explica o clínico.

A sensibilização para o problema é algo que se iniciou há cerca de dois anos. Foi quando “se começou a chamar a atenção subrepticiamente em alguns programas de televisão”, lembra. A partir daí, a comunidade médica passou a prestar mais atenção ao caso e a tentar saber o porquê da situação. “Tudo o que toca na sexualidade é complexo, depende dos comportamentos e os ‘mass media’ são muito importantes para essa sensibilização”, conclui.