O sucesso de “Jesus Cristo Superstar”, o musical que Filipe La Féria leva ao palco do Rivoli, no Porto, vai ser um dos factores que determinará se o encenador vai explorar o teatro municipal. O musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, que estreia em Portugal no Rivoli esta quinta-feira, será um “teste” à reacção do público do Porto aos espectáculos de grande dimensão de La Féria.

O começo da exploração do Rivoli, inicialmente pensado para Maio, foi adiado devido a uma providência cautelar interposta por um dos concorrentes derrotados no concurso aberto pela Câmara do Porto para a concessão do equipamento. La Féria espera o desfecho do processo judicial, mas avisou, esta terça-feira, em conferência de imprensa, que continuar no Rivoli depende do êxito de “Jesus Cristo Superstar”.

“Cobrir as despesas”é o objectivo, que deverá ser conseguido com três meses com lotação esgotada, esclareceu o encenador. La Féria mostrou-se optimista, citando sucessos anteriores.

Condições técnicas “obsoletas” no Rivoli

A grande dimensão – 122 artistas (86% do Norte) – e os elevados custos técnicos do espectáculo implicam “forçosamente” que ele seja um “êxito de bilheteira”.

A peça custou 2,5 milhões de euros, dos quais um milhão foi utilizado no equipamento, já que o Rivoli apresentava “obsoletas condições técnicas”. Faltava, por exemplo, uma máquina de fumo, equipamento vulgar “em qualquer teatro amador”, lamentou La Féria. As más condições exigiram um investimento de 500 mil euros em equipamentos de luz e som.

“Depois dessa surpresa má, agora esperamos que haja surpresas boas”, referiu.

Teatro não é “só para uma elite”

O contrato de aluguer entre La Féria e a autarquia termina no final do ano. Para Setembro, está prevista a encenação de “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry, com três sessões diárias a pensar no público infanto-juvenil.

“Os teatros são espaços abertos a todas as sensibilidades. Não podem ser só para uma elite”, afirmou, reafirmando a sua conhecida aversão à atribuição de subsídios.

Encenação “amargurada”

A encenação de La Féria para “Jesus Cristo Superstar” distingue-se da original, apresentado nos anos 70. A nova versão é “um pouco violenta e amargurada”. “Nos anos 70 era outra visão. Hoje vivemos num período de guerras santas. Há um enorme fundamentalismo religioso”, explicou.

O encenador diz-se “entusiasmado” pela “quantidade de talentos” gerados no Norte. “É isso que me seduz. Acho secundário ficar ou não ficar [a explorar o Rivoli]. Se deixar uma semente, com certeza que depois nascem as flores”.