A vontade “prioritária” da Câmara do Porto (CMP) de encerrar, já no próximo ano lectivo, a escola EB1 do Aleixo voltou a chamar a atenção para os problemas sociais vividos no bairro da freguesia de Lordelo.

A população do Aleixo não se conforma com a medida inscrita na Carta Educativa do concelho. O objectivo é “desligar”, durante os tempos escolares, as crianças do contexto de exclusão social do bairro, conhecido pelos graves problemas de toxicodependência, explicou o vereador da Educação da autarquia, Vladimiro Feliz, na semana passada.

Moradores descontentes

“O objectivo é libertar o bairro do terreno da escola. O terreno vai ganhar mais capacidade construtiva. Ele [presidente da autarquia] diz que no final do mandato quer apresentar uma solução para o bairro. Achamos que vai ser demolir”, disse ao JPN fonte da Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo (APSPBA), que acusa a autarquia de falta de diálogo.

A associação promete endurecer a luta contra o encerramento de uma escola com 66 alunos matriculados no ensino básico e 14 no jardim-de-infância.

“No momento em que a escola fechar o meu menino não vai mais para a escola. No momento em que a escola fechar o bairro vai abaixo”, diz Idália Florim, de 44 anos, que já teve quatro outros filhos a estudar ali.

“É a melhor escola desta área. Tive quatro filhos aqui e agora tenho um sobrinho. Para onde é que vou levar o miúdo? Não tenho vida para o levar para outros lados”, afirma Maria Clara, de 46 anos. Maria Irene, de 70 anos, também garante que a escola do Aleixo tem boas condições e que é a “melhor” das redondezas.

“Há tantas crianças, para onde é que elas vão?”, questiona Palmira Fonseca, 42 anos. A moradora deixa uma sugestão à autarquia: aumentar o muro das traseiras da escola para esconder dos alunos os toxicodependentes que utilizam um terreno contíguo.

Medida depende da DREN

A Carta Educativa será analisada na próxima reunião de câmara, porque o requerimento, apresentado pelo PS, para adiar a discussão foi aprovado, esta terça-feira, com os votos favoráveis dos socialistas e da CDU e abstenção do PSD/PP.

Os partidos comprometeram-se a resolver o assunto até ao final de Julho para não colocar em risco o acesso aos fundos comunitários. Depois de aprovado, o documento terá que ser ainda analisado pela Direcção Regional de Educação do Norte (DREN). Os moradores do Aleixo acreditam que a DREN não permita o encerramento da escola, tal como aconteceu no ano passado.

“Verdes” impressionados

O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) vai apresentar esta semana um requerimento ao Parlamento e aos ministérios da Educação e da Segurança Social sobre a política camarária para o bairro.

“Ficamos extremamente impressionados com o estado de degradação do bairro, que está vetado ao abandono”, afirmou ao JPN o deputado do PEV, Francisco Madeira Lopes, que visitou a zona esta quarta-feira.