A rota marítima mais rápida entre a Europa e a Ásia, que até então permanecia congelada, está aberta este Verão. A Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou, sexta-feira, imagens que mostram a ausência de gelo na região (ver foto). Pela primeira vez, desde que é monitorada, a Passagem do Noroeste, localizada entre a Gronelândia e o estreito de Bering, tornou-se navegável.

“Pela primeira vez, desde que há registos históricos, a mítica Passagem do Noroeste abriu-se”, explica ao JPN Gonçalo Teles Vieira, investigador do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa.

O derretimento das regiões congeladas do globo (Árctico e Antárctida), é uma consequência do aquecimento global confirmada pelo Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas. A perda do gelo poderá causar a subida do nível do mar entre 18 e 53 centímetros até 2100.

“Foi uma grande surpresa para a comunidade científica o facto do gelo daquela região ter derretido tão depressa. É preocupante”, refere Gonçalo Teles Vieira. “É um sinal de que, no Verão, o mar gelado está a desaparecer mais rápido do que se pensava”.

Interesses comerciais

A abertura do caminho mais rápido entre a Europa e Ásia não vai passar em branco no que toca aos interresses económicos de muitos países. “A vantagem para o comércio é possibilidade de passar embarcações comerciais pelo Ártico”, explica o cientista.

De acordo com a BCC, o Canadá reivindica o direito à região por estar perto do seu território. União Europeia e EUA contestam a posição, argumentando que a nova passagem deve ser internacional.

Urso polar corre perigo

Segundo Gonçalo Teles Vieira, que integra a primeira equipa portuguesa no IV Ano Internacional Polar, a abertura da Passagem do Noroeste, “que volta a congelar no Inverno”, pode pôr em causa parte da fauna – como o urso polar e algumas espécies de focas – que depende do mar gelado para sobreviver.

Com o derretimento das camadas de gelo, no Verão, os ursos polares nadam quilómetros até encontrarem um local onde possam subir. Com verões mais intensos e invernos mais curtos, os animais têm menos tempo para caçar.