O primeiro festival “Se esta rua fosse minha…'”, organizado pelo bar e associação cultural Plano B, vai mesmo acontecer, de uma forma ou de outra, apesar de a Divisão de Trânsito da Câmara do Porto ter recusado cortar o trânsito da rua Cândido dos Reis, no dia 5 de Outubro.

O evento engloba várias manifestações artísticas, desde dança a concertos, teatro e animação de rua, performances, instalações, projecções de vídeo, actividades para crianças e artesanato, e seria, segundo os organizadores, um acontecimento importante no âmbito da reabilitação da Baixa.

O projecto inicial consistia em ocupar toda a rua em questão, onde se situa o Plano B, das 11h00 à meia-noite do feriado do 5 de Outubro. Contudo, a Divisão de Trânsito alegou que o evento não justifica o corte de uma rua principal.

“A cidade foi feita para os seus habitantes e não para meia dúzia de automóveis”, critica um “blogger”

A organização do festival já recorreu da decisão e tem “expectativas” quanto à alteração da mesma, disse ao JPN Rita Maia. Se a decisão da CMP não for alterada, vai ser necessário “adaptar o festival, talvez sem palco”, acrescentou o membro da organização.

Apelos à “desobediência civil”

“O evento ‘Se esta rua fosse minha…’ (…) já é um sucesso e ainda nem aconteceu ou talvez nem venha sequer a acontecer”, afirma David Afonso, no blogue “A Baixa do Porto”.

Neste blogue colectivo, lêem-se vários comentários críticos à decisão da câmara. Tiago Azevedo Fernandes, coordenador do blogue, considera, ao JPN, que “a única explicação possível [para a decisão da CMP] é a proposta ter sido vista com pouco cuidado” e “confia” que a decisão vai ser alterada, já que “a rua não tem qualquer trânsito”.

Jorge Azevedo manifesta-se, no blogue, contra o fecho de espaços públicos para efeitos de “qualquer manifestação comercial, política ou cultural que seja”. No entanto, defende que “haverá excepções a considerar”, já que não só o evento tem um “carácter bastante impulsionador, para tirar a Baixa do Porto do marasmo em que se encontra há mais de 15/20 anos”, como também “não tem quaisquer repercussões no normal movimento da Baixa”, porque existem alternativas.

“A câmara municipal ainda não percebeu que a reabilitação urbana da baixa da cidade não se faz apenas com a SRU, mas sim, com uma dinâmica de eventos, de acontecimentos culturais e artísticos, que mobilizem os cidadãos e os visitantes.”, declara Pedro Bismarck no “Opo.zine”.

“Considerar que, no dia 5 de outubro, feriado nacional, o corte de uma rua secundária – como é a rua Cândido dos Reis – como uma alteração profunda da ordem da cidade ou é uma piada ou é mesmo incompetência”, acrescenta. “Em Madrid fecham uma das ruas mais movimentadas da cidade para que o Festival Pura Vida possa acontecer”, declara André Gomes no “A Baixa do Porto”.

Pedro Bismarck sugere a ocupação da rua pelos cidadãos e participantes no evento. “A cidade foi feita para os seus habitantes e não para meia dúzia de automóveis que vão passar ai nesse dia”, defende. Uma ideia que Tiago Azevedo Fernandes classifica como “‘desobediência civil’ sensata”.