E se as roupas que vestimos diariamente fossem uma fonte de energia eternamente renovável e de luz? Não é preciso imaginar: já é uma realidade para a comunidade de Sierra Madre, no México, e Sheila Kennedy, investigadora e professora na Universidade de Harvard e líder da equipa responsável pelo projecto, espera que, no próximo ano, alguns milhares de pessoas de países em vias de desenvolvimento tenham acesso à tecnologia “Portable Light Mat“.

A equipa da empresa KVA MATx reúne engenheiros eléctricos, designers, estudantes da Universidade de Michigan, antropólogos e outros. Juntos quiseram encontrar “uma nova forma de oferecer luz e energia renovável a pessoas que não as têm”, explica Sheila Kennedy, que esteve na semana passada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto no colóquio “Desenhar a Luz”.

O resultado da investigação foi uma ideia simples mas engenhosa: criaram um tecido luminiscente, transportável e capaz de captar a energia solar durante o dia e transformar-se numa espécie de candeeiro à noite. O têxtil utiliza materiais de baixo custo (baterias de telemóvel, interruptores à prova de água de máquina de lavar e luzes LED dos semáforos). Cada “kit” custa cerca de 37 euros.

Para os mexicanos sem acesso à luz eléctrica, que testaram os protótipos nos seus tradicionais sacos, o têxtil fez uma enorme diferença nas suas vidas, facilitando actos como a leitura e a confecção de alimentos. Como eles, calcula-se que cerca de dois biliões de pessoas estejam privadas de electricidade, um factor que condiciona o desenvolvimento.

Também útil para os países ricos

Mesmo que não pareça, o “Portable Light” é um projecto de arquitectura, garante Sheila Kennedy. “Os arquitectos estão treinados para olhar para coisas que não existem e trazê-las para o real. Na KVA MATx, começámos a pensar como é que poderíamos ajudar quem precisa com o que tínhamos agora. Não queríamos esperar até que algumas tecnologias fotovoltaicas evoluíssem”, conta.

A tecnologia não pode ajudar apenas os países pobres, mas também ser útil ao esforço ecológico das nações mais avançadas economicamente. “Estamos a desenvolver muitas ideias no dito ‘terceiro mundo’ e a aprender bastante sobre o que podemos usar no ‘primeiro’”, observa.

O projecto “Soft House”, da mesma empresa, é disso exemplo: transforma as cortinas de uma casa num aparelho de “recolha” de energia – pode gerar mais de metade da energia usada numa casa média nos Estados Unidos.