Durante 11 dias as salas do Cinema Londres, São Jorge e da Culturgest, em Lisboa, vão levar os espectadores a encarar o inverso do “sonho americano” e as consequências duma sociedade tão globalizada como individualizada.

O DocLisboa pretende apresentar a produção documental de 2006/2007 com a projecção intensiva de filmes de hoje, quinta-feira, até 28 de Outubro. A programação é forte e conta com 46 documentários em competições nacionais e internacionais. Aposta na divulgação do cinema real e chocante com questões da actualidade mundial tratadas com uma perspectiva simultaneamente ingénua e perversa.

A abertura do festival é protagonizada por “Taxi to the Dark Side”, de Alex Gibney. Expondo os pormenores mais violentos da tortura dum taxista afegão por militares americanos, Gibney explora as contradições da administração Bush quanto à definição de tortura.

Michael Moore mantém-se fiel à clássica sátira ao governo norte-americano, focando as atenções no sistema de saúde. “Sicko” é o mais recente rebento, um misto de “espectáculo” e desesperança, pondo sob o ridículo as seguradoras de saúde dos EUA.

Katrina e um “exército de Deus”

Mas a marcha contra a América não acaba aqui. O furacão Katrina serve de cenário para explorar o racismo e as desigualdades sociais. Em “When the Leeves Broke”, Spike Lee apresenta uma sequência de testemunhos que transparecem uma só dúvida: “Where is my government?”.

“Jesus Camp”, que estará em exibição amanhã, é um documentário real sobre um campo de férias americano, cuja fundadora forma um “exército de Deus” com crianças de 10 anos, incutindo-lhes princípios do catolicismo evangélico fundamentalista.

Brian Seidle, o protagonista de “The Devil Came on Horseback”, é um antigo observador internacional destacado no Sudão e que contacta com os episódios mais obscuros do genocídio e da destruição. Pela mão dos realizadores Annie Sundberg e Ricki Stern, a experiência de Seidle revela uma atitude de desilusão pela indiferença da comunidade internacional face à crise humanitária do Darfur.

A oferta é diversificada mas refugia-se, em cada documentário, na expressão urgente duma realidade incómoda. Por um lado uma vertente activa de intervenção social: o racismo, a discriminação, o consumismo, o analfabetismo ou a guerra; por outro, um reflexo puro e descomprometido das acções, reacções e emoções humanas.

O DocLisboa arranca hoje, pelas 19h, no grande auditório da Culturgest. No evento são esperados cerca de 30 mil espectadores. Os bilhetes são vendidos nos locais de exibição e custam 2 euros para o pequeno auditório da Culturgest e 2,5 euros para as restantes salas.