O palácio branco de Nazoni abriu as portas pela primeira vez ao artista dos “relógios moles” com a Colecção Clot. Na exposição “Dalí no Porto”, o grande atractivo é a escultura, inspirada sobretudo em símbolos da cultura espanhola, como as personagens de Cervantes, ou símbolos pessoais, como Gala, a diva inspiradora do espanhol.

Apesar de ser uma faceta menos conhecida, o Dalí escultor não se dissocia do Dalí surrealista e sonhador, como é possível ver nas obras expostas: o Elefante cósmico, exemplo das típicas figuras ambíguas, antropomórficas e absurdas dalinianas; Mulher nua a subir escada, em homenagem a Gala, que Dalí considerava ser a sua “Gradiva”; “Cavalo e cavaleiro a tropeçarem”, símbolo de uma cultura não só hispânica, mas representativa da própria arte, uma vez que Dalí considerava o cavalo um elemento constante nas representações artísticas; e “A Alma de D. Quixote”, no qual se pode ver a personagem principal de Cervantes sentada sobre um rochedo a ler um livro.

Outras esculturas, como “Perseu”, “Homem a montar o golfinho” e “Dulcineia”, podem ser também observadas.

Misticismo em Dali

Além do escultor, o lado místico que caracterizou Dalí a partir dos anos 50, é dado a conhecer na Colecção Clot. Logo na primeira sala, surge a famosa imagem de “Cristo de S. João da Cruz”, inspirada num desenho feito por S. João da Cruz no século XVI. Em vários livros sobre o artista, o Cristo de Dalí é tido como a imagem mais representativa dessa fase religiosa, uma visão que teve num “sonho cósmico”.

Na exposição, esse lado mais profundo de Dalí surge ainda na Representação da Bíblia Sagrada, um conjunto de pinturas em que a cor pauta o simbolismo de cada cena, oscilando entre os tons quentes e frios. “A minha mística não é apenas religiosa, mas nuclear, alucinogénea e no ouro, na pintura dos relógios moles ou nas minhas visões de A Gare e Erpinhão (1965)”, disse Dalí.