É uma das mais importantes exposições na história de Serralves e particularmente relevante para a compreensão de um dos artistas fundamentais da arte contemporânea. A partir desta sexta-feira e até 30 de Março de 2008, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Serralves mostra obras produzidas por Robert Rauschenberg entre 1970 e 1976, um período praticamente desconhecido do artista norte-americano.

A maior parte dos trabalhos deste período não chegou a entrar no mercado da arte, pertencendo à colecção pessoal de Rauschenberg – esta é, por isso, a segunda vez que são exibidas, porque voltaram ao estúdio do artista após as primeiras exposições.

“Ninguém as queria ver”, conta a comissária da exposição “Em Viagem 70-76”, Mirta D’Argenzio. Ela própria foi “descobrindo alguns segredos destas obras”, contou na apresentação da mostra. “Parecem cartões mas não é assim tão simples”.

Rauschenberg ausente

Rauschenberg, que fez segunda-feira 82 anos, não pôde estar presente na apresentação devido à morte de Ileana Sonnabend, dona de uma galeria onde expôs frequentemente, a quem a exposição é dedicada. No entanto, segundo o director do MAC, João Fernandes, é provável que o artista consiga estar na inauguração da exposição esta sexta-feira.

“É um dos grandes momentos na vida cultural portuguesa deste ano”, assegurou o presidente da Fundação de Serralves, Gomes de Pinho. “Tratam-se de obras que são marcos na história da arte contemporânea”, acrescentou. A exposição é co-produzida com o Haus der Kunst (Munique) e o Museo Donna Regina (Nápoles).

Artista em viagem

De 1970 a 1976, Rauschenberg privilegiou materiais como o cartão e o tecido e explorou novas possibilidades de técnicas de impressão. “Os dadaístas já tinham usado o cartão, mas era apenas um elemento, não a obra”, explicou João Fernandes. Neste período, o artista faz várias viagens que se reflectem nas obras que produzia.

Nos anos 70, Rauschenberg mudou-se da agitada Nova Iorque para Captiva, uma ilha no Sul da Flórida praticamente inabitada (onde lá reside), numa recusa do estilo de vida urbano. Nessa ilha, havia pouco mais do que areia e mar, mas o artista deparou-se com a quase omnipresença nas sociedades modernas de um material: o cartão. Muitos dos 65 trabalhos expostos em Serralves são nesse material, símbolo da civilização mercantil e globalizada.

Apontaram ao norte-americano relações de parentesco com a Pop Art, mas “ele não se interessava pelos conceitos”, referiu Christopher Rauschenberg, irmão do pintor. No mesmo sentido, a comissária Mirta D’Argenzio sugere ao público que “olhe para as peças primeiro e que leia os textos [de explicação] depois”.