Mais de 20 anos depois, “Ribeira Negra”, o gigantesco painel com que Júlio Resende imortalizou as gentes da Ribeira do Porto, ganha uma “casa” digna. Não está muito longe do armazém camarário na Biblioteca Almeida Garrett, onde esteve encaixotado e de onde apenas saiu para exposições temporárias, mas vai ficar num local onde pode ser apreciada pelo público: o edifício da Alfândega do Porto.

“Estou muito feliz”, disse, esta quarta-feira, Júlio Resende, numa visita ao local. A proximidade da Alfândega em relação à Ribeira que inspirou a obra agrada ao pintor, que completou há dias 90 anos. “Isto nasceu aqui. Se ficar nesta zona fico encantado”, afirmou.

A fixação de “Ribeira Negra” na Alfândega, de onde só vai sair em ocasiões especiais, põe fim à polémica motivada pelo seu armazenamento. A mostra antológica sobre Resende, que decorre até domingo na Alfândega, arrancou mesmo sem aquela que é uma das maiores obras-primas do pintor portuense.

Polémica com resultados

Resende chegou a afirmar-se “triste” por ter doado o painel, com uma superfície total de 120 metros quadrados, à autarquia. Mas, esta quarta-feira, referiu que “não devia ter falado”. “Quero pedir desculpa se alguma vez os jornais disseram alguma coisa que ultrapassa a minha maneira de ser”, declarou.

O presidente da Câmara do Porto, por outro lado, agradeceu a Resende o facto de ter mostrado o seu descontentamento pelo destino de “Ribeira Negra”. “Se ele não tivesse falado, não estávamos aqui a resolver o problema”, afirmou Rui Rio. “”Quando cheguei à câmara nem sequer sabia que a obra estava em caixotes”.

Carlos Brito, presidente da Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações, gestora do edifício da Alfândega, realçou a “grande visibilidade internacional” que a obra vai ter nesta nova “casa”. Além disso, acrescentou, 30 mil crianças passam pelo edifício todos os anos.