Andam de metro de noite e de dia. Sabem de cor os trajectos, a cor das zonas, o som da campainha. Conhecem o passo de quem vai para o trabalho e está atrasado e o de quem vai passar o dia num passeio. São os revisores do metro do Porto, que comemora esta sexta-feira cinco anos de vida.

Hugo Peixoto tem 31 anos, trabalha como segurança há nove, já passou pela Casa de Serralves e tem acompanhado o percurso do metro do Porto desde o início. Desde há cinco anos que é revisor do metro – é um dos conhecidos “picas”. Apesar do “stress” – o seu e o dos utentes -, gosta do que faz.

O trabalho no metro do Porto surgiu por acaso e, desde o primeiro dia, tem dado muito que fazer a Hugo Peixoto. Recorda a confusão com um grupo de jovens que entrou no metro sem títulos de viagens e que recusava ser multado. “Foi difícil, um colega meu acabou por ir para o hospital”, conta.

Apesar de tudo, aprendeu a gostar do trabalho e, hoje, sabe que tem “de andar bem disposto para conseguir fazê-lo.” Lidar com o “stress” acumulado dos outros nem sempre é fácil.

Salvar vidas

Os revisores do metro guardam inúmeras histórias, desde as mais caricatas até aquelas que fazem acelerar o ritmo cardíaco. Hugo já foi ameaçado, já teve processos em tribunal, mas também já salvou vidas – evitou que uma senhora se suicidasse na linha do metro.

“Eu e um colega conseguimos fazer parar o metro a tempo e tirar a senhora da linha. Não foi uma situação muito boa, mas no fim fez-nos sentir bem e felizes com o resultado”, recorda.

Também a ponte D. Luís tem sido palco de tentativas de suicídio. A “má fama” dos revisores inverte-se em momentos como estes. Mas nem sempre: muitas vezes a pessoa que acaba de ser salva “revolta-se e acusa o revisor de não a ter deixado matar-se”.

Esta é a realidade dos homens que trilham as linhas do metro. Sentem o perigo da noite, que para Hugo “é um dos turnos mais difíceis”, devido ao álcool e o cansaço de quem vem das discotecas às 6h da manhã.

Perdoar multas

Passados cinco anos, muitos continuam a andar de metro “clandestinamente”. Já perdoou multas? “Sim, já o fiz”. Confessa que opta sempre por conversar e tentar compreender as razões dos infractores. “Perdoo quando acredito que o erro não foi propositado, que não se tratou de um esquema”.

Nos dias de folga, Hugo despe a farda, mas nem por isso deixa de andar de metro. “A sensação é estranha e nem sempre é fácil. Às vezes olho para o lado e vejo uma pessoa que já autuei ou uma por quem já fui ameaçado”.