Foi consultor da UNESCO na classificação do centro histórico do Porto como Património Mundial, em 1996. Participou nas comemorações do 11º aniversário do título, acto de cidadania que elogia.

Em entrevista ao JPN, num hotel no coração da Ribeira do Porto, o professor e arquitecto valenciano Álvaro Gomez-Ferrer Bayo convida a Câmara do Porto a retomar o caminho que ajudou o núcleo histórico da cidade a ser Património Mundial, criando um organismo semelhante ao extinto Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo (CRUARB), entidade responsável pela recuperação do centro histórico, entre 1974 e 2003, que integre economistas, técnicos e urbanistas.

Disse que o movimento de cidadãos foi uma “magnífica festa” por surgir de cidadãos e não de entidades oficiais. Como sentiu as celebrações?

É verdade. Normalmente as cidades Património Mundial têm problemas porque fazem acções que vão contra o que estava na cidade aquando da classificação. Em Espanha, em cidades como Salamanca, houve esses problemas. Aqui [no Porto] o problema parece ser o contrário, fazem-se poucas coisas.

Como vê a evolução do centro histórico do Porto, desde 1996?

Há 11 anos havia acções do CRUARB e micro-equipamentos que faziam guarda de crianças, lares de terceira idade, etc.. Dá-me a ideia que a partir de 2001 não há tanto movimento em torno do centro histórico. Deste ponto de vista, parece-me muito importante que haja uma reivindicação popular.

Falou das cidades espanholas. Que maus exemplos são esses?

Acções de transformação de alguns edifícios, algumas demolições. Muitos centros históricos de Espanha têm conventos e edifícios que têm que ser readaptados para outras funções. Nessas transformações – para fins hoteleiros ou culturais – muitas vezes altera-se a imagem dos centros históricos, que é de poucas transformações.

Aqui, no Porto, que tem uma estrutura muito densa e urbana, é preciso continuar as acções que se fizeram naqueles anos.

No dia da festa, falou-se muito do CRUARB. Recentemente, foi extinta também a Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto (FDZHP). Como vê o fim destas estruturas especializadas no centro histórico?

O centro histórico não é um gueto, é uma parte da cidade. Quanto mais se contemplar o conjunto, seguramente que as medidas de acção vão ser melhores. Em muitas outras cidades Património Mundial, há uma estrutura que faz acções específicas no centro histórico – aqui era o CRUARB.

A reabilitação urbana passou para uma entidade, a Porto Vivo, que não se ocupa apenas do centro histórico.

Não me parece mal, por princípio, que haja uma integração do centro histórico na cidade, mas isso não impede que acções especificas de reabilitação e micro-equipamentos façam falta. É que pode regressar um processo de degradação social que faça com que o centro histórico não seja atractivo.

O Porto é uma cidade difícil do ponto de vista de estrutura, geografia, tem a barreira do rio. Este centro não é centro, é periférico. Por isso, é muito importante que haja relações com o resto da cidade. Eu proporia que devia voltar a existir um organismo semelhante ao CRUARB, que integrasse economistas, técnicos, urbanistas, etc., e que se implemente uma recuperação do centro histórico.