Num texto seu, afirma que o espectáculo “What Happened To Madalena Iglesias” levou-o “do teatro dito ‘independente’ ao teatro do grande público”. Porquê?

Porque eu sempre me desviei muito do teatro dependente do Estado. O Estado português imita muito o Estado francês. Há um proteccionismo e a arte é muito “subsídio-dependente”. Sempre lutei contra isso. Não tinha paciência nenhuma de passar a minha vida nos corredores do Ministério da Cultura a pedir esmolas aos ministros do PS e do PSD. Acho isso uma enorme tristeza. Então, virei-me mais para um teatro que dependesse do público.

É um trabalho onde se trabalha muito mais. É como um trapezista sem rede. Nós não podemos cair do trapézio senão morremos. No fim do mês, temos que ter os ordenados para pagar. E eu tenho quase 220 trabalhadores.

Eu sou mais anglo-saxónico nisto: acho que o teatro e a cultura têm que ser independentes do Estado. Têm que viver do público, e não do Estado.

Para além do teatro, também participou em grandes projectos na televisão. O que prefere? O teatro ou a televisão?

40 mil vezes o teatro! Acho que sempre fiz televisão para ter dinheiro para gastar todo no teatro. A televisão é “fazer salsichas”, é tudo igual. Você tem um programa e depois repete até à saciação por um ano ou por dois anos. Não tem arte. Acho que a televisão é um electrodoméstico. O palco é um lugar nobre, um lugar de cultura. Seja a fazer musicais, Shakespeare, tragédia ou farsa, é sempre um lugar de eleição da cultura.

Precisamente no teatro, o local que elege, notabilizou-se com grandes projectos como “Amália”, “Jesus Cristo Superstar” e “Música no Coração”. Qual é a chave do seu sucesso?

Trabalhar com paixão. Detesto a palavra “sucesso”. É uma coisa também desta sociedade pós-25 de Abril. Tudo se justifica por causa do sucesso. Acho que tenho êxito – gosto mais da palavra “êxito” – e o público vai ver os meus espectáculos porque são bons, porque eu trabalho com paixão. Faço apaixonar todas as pessoas pelos projectos. É esse o segredo. É o amor.