Veio para Portugal em busca de trabalho e acabou a prostituir-se nas ruas. Antes tinha estado no país vizinho. “Em Espanha pagam melhor, mas é muito difícil: você tem que se meter com drogas. E a única droga que eu curto é o meu tabaco. Dinheiro é bom, maravilhoso, mas se você se envolver com drogas, acabou a sua vida. Então prefiro ganhar menos”, conta “Joyce Brunnet”, um travesti que se prostitui na baixa do Porto.

Nasceu homem mas considera-se mulher, apesar do seu discurso ser dividido entre os géneros feminino e o masculino. Anda e age de forma feminina e põe de lado, com toda a convicção, a possibilidade de mudar de sexo. É esta a essência de um travesti, defende.

Pedimos-lhe para designar a sua actividade. Diz que é “garoto de companhia, massagista”. Esclarece que o emprego do termo “massagista” não é mais que uma metáfora utilizada muitas vezes pelos clientes para se referirem à actividade sexual de uma forma mais camuflada.

No meio de uma rotina que começa por volta das seis da tarde e que, por vezes, se prolonga até o nascer do sol, há ainda espaço para as relações pessoais. “Tenho namorados. Lá no Brasil fui casada – três relacionamentos sérios, um de cinco, um de três e um de quatro. Morando na mesma casa, uma vida de casal, normal. Com mulheres nunca tive relação. Nunca fiz nada com mulheres. Nunca tive contacto, nem um beijo com mulher”.

Diz que o maior preconceito que sofre, além de ser travesti, é o de ser brasileiro. Na rua, os perigos e o preço a pagar por uma vida à margem da sociedade são maiores, explica. A polícia ajuda a sentir mais segurança, acrescenta.

Joyce diz que é travesti “de livre e espontânea vontade, não foi através de agência, não foi por intermediário, ninguém”. Diz ter um relacionamento pacífico com as prostitutas. “Não tem problema. Cada um fica no seu sítio”.