“Hoje fui lá para a fora e levei o café e tive a fumar o meu cigarro”. É provável que a história de Sara Montalvão se venha a repetir um pouco por todo o país, agora que a nova lei que regula o consumo do tabaco está em vigor.

Esta quarta-feira, depois do feriado de Ano Novo, deu-se o primeiro grande teste à legislação. Nos cafés e restaurantes na Baixa do Porto, o dia de negócio decorreu sem problemas. Numa ronda pela Baixa, constata-se que a esmagadora maioria dos estabelecimentos optou por proibir totalmente o fumo no seu interior, como já era previsto.

Apesar dos incómodos, Sara Montalvão apoia a nova lei. A cliente do café Progresso acredita que, com o tempo, vai habituar-se às novas regras. Apesar dos dois andares, é proibido fumar em todo o espaço do Progresso – fez obras há pouco tempo e os aparelhos de ventilação são muito caros, justificou ao JPN uma responsável do café. Ainda não houve problemas com clientes, notou.

No Guarany, um dos cafés mais famosos do Porto, os dois primeiros dias da nova lei foram praticamente iguais aos outros – a excepção está, naturalmente, no fumo e nos obrigatórios dísticos vermelhos colocados aqui e ali.

Com mais de 100 metros quadrados, a empresa podia ter optado por criar uma divisão para fumadores, mas por motivos estéticos decidiu não o fazer, explica Miguel Ferreira, chefe de mesa gerente. A mesma opção foi seguida por outro café emblemático gerido pela mesma empresa, o Majestic.

“Fumar lá fora”

Em algumas tascas junto ao Teatro Carlos Alberto, há fumadores e não fumadores que lamentam, em parte, a perda da liberdade de fumar em qualquer café ou restaurante, mas também quem aplauda sem reservas a lei. Até agora, refere Eduardo Moreira, proprietário do Café O Teatro, os clientes “estão todos a fumar lá fora”.

Não muito longe dali, no Pão do Céu, na rua do Pinheiro, o tom era menos optimista. “Ouvimos os comentários e vemos que isto vai notar-se [na clientela], mas vai levar tempo”, acredita Adelino Ferreira, que diz que os equipamentos de ventilação são excessivamente caros para os pequenos estabelecimentos.

“Não tivemos escolha. Com uma casa que só tem um ano não tínhamos hipótese de pagar 15 mil euros [para instalar ventiladores]”, diz Maria José Sousa, do Pingo de Cimbalino, na praça Guilherme Gomes Fernandes. “As pessoas vão ficar menos tempo nos estabelecimentos e vão consumir menos”, acrescenta a gerente. No balcão, Manuel José, de 43 anos, fumador há 27, tratava de lhe dar razão: “Vim tomar café, vou-me logo embora. Sair e entrar não dá”.

Hotel sem cinzeiros

Na Churrasqueira Central dos Clérigos, até ao fim da tarde desta quarta-feira não tinha havido quaisquer problemas. “Se a gente aqui perder clientes, nos cafés ainda vai ser mais. Aqui é comer e ir embora”, diz António Pereira, confiante na manutenção da clientela.

Também os hotéis têm regras mais apertadas. O Hotel Internacional do Porto, na rua do Almada, optou por proibir o tabaco em todo o seu espaço (bar e restaurante incluídos), com a excepção de alguns quartos. “Aqui já não se fumava muito. Já não tenho cinzeiro em lado nenhum. Até agora não tivemos nenhuma reacção”, constata Papuc Mihai, recepcionista e empregado do bar.