Mário Dorminsky avisou que não estava “zangado”, mas foi com um discurso muito crítico da atitude do Governo perante o Fantasporto que o membro da direcção do festival anunciou, esta terça-feira, os contornos da 28ª edição do evento, que arranca a 25 de Fevereiro e termina a 9 de Março.

“Tal como acontece na vida política, o Grande Porto tem sido sempre marginalizado”, começou por dizer Dorminsky. Em causa, está o “aparecimento, como cogumelos, de vários festivais em Lisboa”, que leva a que a verba disponível para apoiar estes certames – que se tem mantido praticamente inalterada – seja insuficiente, considerou.

“O Instituto do Cinema e do Audiovisual apoiou 16 festivais este ano com uma verba idêntica ao tempo em que apoiava cinco”, criticou. Sem defender um “regime de excepção”, Dorminsky pediu apenas que os poderes públicos olhem “para a realidade” e não obriguem o festival a continuar “de mão estendida” à procura de patrocinadores privados, que atravessam uma altura “difícil”.

À espera de respostas

O velho sonho da fundação

“Temos os estatutos feitos, sede, no velhinho Cinema Jardim. Precisamos do Estado”. Para Dorminsky, a concretização da há muito ambicionada Fundação Fantasporto será a “única solução” para o recorrente problema no financiamento do festival.

Este ano, o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) deu a 11 festivais apoio anual (225 mil euros no total) e a cinco, entre os quais o Fantasporto, apoios plurianuais (525 mil euros em 2008). No triénio 2008-2010, o “Fantas” receberá 375 mil euros do ICA, cerca de uma décima parte do orçamento total desta edição. “Às vezes apetece vender o festival”, ironizou Dorminsky.

Virou baterias também para o Instituto do Turismo, do qual espera ainda resposta quanto a um eventual apoio a esta edição, considerando que o trabalho do “Fantas” em prol da promoção externa da imagem do país vale “centenas de milhares de euros”.

12 salas

Este ano, o festival acontece em 12 salas de cinema, 10 das quais da Lusomundo e espalhadas por oito cidades do norte. Neste momento, o cartaz inclui 359 filmes em 527 sessões.

No Porto, ao já habitual Rivoli (onde o “Fantas” vai permanecer pelo menos até 2009), junta-se o Teatro Sá da Bandeira, que será equipado com material de projecção digital. Lá vão decorrer sessões dedicadas ao cinema série B e Z (objectivo: “recuperar o público tradicional” do festival, “que foi perdendo o gozo de ir ao ‘Fantas’”) e ao público juvenil.

Dinamarca em destaque

O festival arranca com “Este país não é para velhos”, dos irmãos Joel e Ethan Coen. “Breath”, de Kim Ki Duk, “I’m a cyborg, but that’s OK”, de Chan Wook Park, e “Wolfhound”, de Nicolai Lebedev, são alguns dos filmes em destaque. A cinematografia central do “Fantas” será a dinamarquesa – Lars Von Trier terá uma curta-metragem a concurso.

O actor Max von Sydow, colaborador do realizador falecido recentemente Ingmar Bergman, é uma das presenças confirmadas. Outras presenças estão dependentes do apoio do Instituto do Turismo, disse Dorminsky.

O realizador português Fernando Lopes e o chileno Alejandro Jodorowsky serão alvo de retrospectivas. Face ao “crescente interesse dos jovens em cursos de som e imagem”, a organização seleccionou alguns filmes de estudantes realizados em período curricular para mostrar no festival.