A demolição do interior do Mercado do Bolhão, no Porto, é uma “inevitabilidade” para garantir que possa ser recuperado o investimento, afirma Pedro Neves, engenheiro da TramCroNe, empresa que venceu o concurso para a reabilitação e exploração do edifício.

O projecto da TramCroNe deverá ser aprovado esta segunda-feira, à noite, na Assembleia Municipal do Porto, com os votos contra do PS, CDU e BE e a favor do CDS e PSD. Às 20h30, meia hora antes do início da reunião, haverá uma manifestação frente à Câmara do Porto.

“Com as rendas que os comerciantes pagam, era impossível recuperar o investimento. Para mantermos os comerciantes e não aumentar (ou aumentar o menos possível) as rendas, tínhamos que aumentar o espaço”, explica Pedro Neves em declarações ao JPN. O investimento da TramCroNe será de 50 milhões de euros.

Novas valências

A TramCroNe pretende criar dois novos pisos: um ao nível das ruas Sá da Bandeira e Alexandre Braga, onde ficarão novas lojas, e outro ao nível de Fernandes Tomás, para onde passará o mercado tradicional e restaurantes (que vão ocupar cerca de um quarto do piso).

De acordo com Pedro Neves, as novas valências devem relacionar-se com o mercado tradicional. As flores que se vendem na zona de restaurantes devem, preferencialmente, provir de uma florista do mercado. O mesmo deve acontecer com a comida, exemplifica.

Nas contas da empresa, vão passar a trabalhar no Bolhão 750 pessoas, mais 500 do que actualmente. Lojas de moda e acessórios, restaurantes, habitações e serviços são as novas ofertas que o edifício vai acolher a partir de Dezembro de 2009.

Um novo centro comercial?

Pedro Neves não aceita a tese que diz que o Bolhão será transformado num centro comercial. “Que centro comercial tem apartamentos, serviços, mercado tradicional e restaurantes?”, questiona. “O que queremos é que volte a ser moda ir ao mercado. É o que se passa em Espanha, França e Inglaterra”.

Gabinete de apoio

A partir desta semana, na cave do mercado, estará instalado um gabinete técnico, com membros da TramCroNe e da associação de comerciantes do Bolhão, para esclarecer dúvidas. A TramCroNe vai estudar caso a caso as melhores soluções no que toca a horários e tipo de vínculos com os comerciantes.

Além disso, seria errado, do ponto de vista estratégico, alienar os vendedores do mercado tradicional, a “marca” e o “espírito” do Bolhão. “É o factor que o distingue de outras zonas comerciais”, afirma. Devido a esse entendimento, “o piso mais nobre” do edifício, ao nível da rua Fernandes Tomás, será destinado ao mercado tradicional.

Manifestando disponibilidade para aceitar sugestões alternativas, o responsável vinca: “Não estou a ver uma solução melhor que a nossa. É importante que as pessoas se manifestem, mas devem apontar alternativas”.