O plano de remodelação do Bolhão proposto pela Câmara do Porto foi esta segunda-feira aprovado em reunião da Assembleia Municipal por um voto de diferença. Toda a oposição votou contra o projecto, mas a maioria PSD/CDS-PP viabilizou o projecto, que será executado pela empresa TramCroNe.

Justino Santos, deputado do PS, disse que “o plano de intervenção não é suficientemente conhecido nem pela assembleia, nem pelos comerciantes” e reiterou a necessidade de uma melhor avaliação da possível perda de clientes, do aumento dos custos e das implicações que as obras terão para as famílias que habitam aquele espaço.

O PS defende que se retome o projecto do arquitecto Joaquim Massena, aprovado em 1998 pela autarquia e deixado na gaveta por Rui Rio.

Miguel Barbosa, do CDS-PP, acusou os outros partidos de criticarem sem apresentarem propostas melhores. A votação acabou por resultar em 27 votos a favor da proposta da câmara e 26 contra.

“Comissão liquidatária da cidade”

Sete pisos

O projecto prevê a manutenção da fachada do mercado do Bolhão e a remodelação do interior, que se desenvolverá em sete pisos. Aos cinco já existentes serão acrescentados dois pisos subterrâneos, destinados a aparcamento e cargas e descargas. Também está prevista uma ligação pedonal à estação do metro. Nos pisos 0, 1 e 2 desenvolver-se-á a actividade comercial, estando o piso 2 destinado ao comércio tradicional, tal como existe actualmente no Bolhão. O último piso destinar-se-á à habitação.

José Castro, do Bloco de Esquerda, enumerou algumas cláusulas do contrato estabelecido entre a câmara e o promotor vencedor, realçando que em nenhum momento é dada como garantida a preservação dos interesses de comerciantes e de moradores.

Como principal argumento, o bloquista apontou o facto de a entidade promotora apenas pagar um milhão de euros aquando da aprovação do projecto e pagar o restante apenas dez anos depois. José Castro acusou a câmara de deixar que os dois próximos executivos não recebam nada, prejudicando a cidade. “Estamos perante uma verdadeira comissão liquidatária da cidade”, vincou.

Artur Mendes, da CDU, sugeriu a suspensão da votação e o alargamento do prazo de consulta e apontou como principal erro da câmara ter ignorado todos os estudos anteriores. Este projecto equivale a “matar a cidade”, disse.

Manifestação à porta

Enquanto a assembleia decorria, algumas dezenas de cidadãos manifestaram-se frente à câmara contra a “demolição do Bolhão”. Diogo Massena, um dos organizadores da manifestação, considerou que, apesar de “titânica”, esta é “uma luta que vale a pena”. Sneha Khuma, outra manifestante, realçou a “atitude homogénea dos portuenses” no empenho em consciencializar quem dirige a cidade.