Antero Braga é um dos donos da histórica livraria Lello & Irmão, no Porto, classificada recentemente pelo jornal britânico “The Guardian” como a terceira mais bela do mundo. Retirou a livraria do desconhecido e da pré-ruína, há 13 anos atrás, para a ver “divulgada por todo o mundo“.

Chegou a livreiro “por acidente” (ia trabalhar numa companhia de seguros), mas quando se viu entre os livros não pôde parar mais. Fala naquele tom de pessoa que já viveu muita coisa, fumando um cigarro por cada quarto de hora (“Olhe, eu também fumo, está a ver, que diabo, que chatice”, diz, em conversa com o JPN), enquanto desenrola o fio dos acontecimentos da sua vida e das suas ideias.

Aos 57 anos, a firmeza da sua voz deixa transparecer que, ao olhar para trás, e não se arrepende de quase nada. Esta confiança em si próprio já vem desde a juventude (começou a trabalhar aos 18 anos, “porque queria ganhar umas massas”) e essa autonomia levou-o a subir na vida até chegar a administrador da Bertrand, o mais novo de sempre, aos 34 anos.

Classifica-se a si próprio como “um homem da cultura”, mas tem dificuldade em explicá-lo. Esta relação umbilical com a cultura leva Antero de Braga a tomar posições fortes quanto ao seu estado em Portugal. Defende que a cultura “é um negócio” e tem de ser autónoma e sobreviver por si, independentemente de subsídios, mas também não à mercê de interesses económicos.

Voltou para o Porto depois de 20 anos a trabalhar em Lisboa, e não esconde o carinho pela sua cidade (que diz ser subaproveitada culturalmente pela autarquia). “Faltava-me ter alguma coisa minha”, declara.

Quando sentir que se estiver a “arrastar” e que já não consegue “aportar mais nada de novo”, Antero Braga espera que alguém jovem e “com a mesma loucura” continue a dinamizar a Lello e o seu papel cultural (que ultrapassa os livros e inclui sessões de poesia e peças de teatro nas próprias instalações).

Aí retirar-se-á e vai aprender a tocar piano. Com um ar sonhador e um toque de inocência, diz que era um sonho de menino. “Nem sei se tenho mãos para piano, nem sei se sou surdo para as notas, não faço a mínima ideia. A única coisa que eu sei é que era uma coisa que casava bem comigo. Ler um livro, beber um copo, dar umas pianadas, ver o mar, ver coisas bonitas”.