O antigo Presidente da República Jorge Sampaio apresentou esta quinta-feira à noite várias propostas para o desenvolvimento sócio-económico do país, expressando o seu medo de que Portugal “fique definitivamente para trás” se não der o “salto” necessário nas próximas duas décadas.

Sampaio, que participou no primeiro debate do colóquio “Portugal: Sim ou não?” na Fundação de Serralves, subordinado ao tema “O meu país, a Europa e o Mundo”, concentrou-se nas questões nacionais, afirmando que são essas as prioritárias. Também presente na sessão esteve o eurodeputado Vasco Graça Moura que considerou como fundamental a questão da identidade nacional, que se está a perder, particularmente a nível histórico-cultural, no mundo globalizado.

Modelo actual está “esgotado”

O ex-Presidente da República, que é agora o Alto Representante para a Aliança das Civilizações das Nações Unidas, afirmou que não pretendia apresentar “um programa de Governo” e defendeu uma série de medidas com o objectivo de reflectir sobre o futuro do país.

Salientando que o actual modelo de crescimento económico está “esgotado”, uma vez que já não é sustentável a aposta na “baixa qualificação” da mão-de-obra à espera dos fundos europeus. O novo modelo deverá basear-se na qualificação dos trabalhadores e na adaptação à tecnologia para que o mercado de trabalho se torne competitivo.

Coesão territorial

Sampaio criticou, também, a “falta de coesão territorial” do país, razão de muitas “desigualdades sócio-culturais” entre o interior e o litoral e apelou à descentralização para que seja feita uma “mais eficaz distribuição dos recursos”. “O reforço da via descentralizada fará mais pela solidariedade do que o centralismo”, afirmou o antigo chefe de Estado.

Sampaio: “O futuro de Portugal joga-se nos próximos 20 anos”

O Estado deve, por isso, ser forte e “capaz de definir as prioridades do país”, mas também conter essa intervenção para incentivar a iniciativa empresarial privada. Esse Estado deve ser forte o suficiente para saber “permanecer imune ao tráfico de influências” e resistir aos poderes económicos que o pressionam.

“O futuro de Portugal joga-se nos próximos 20 anos, como já se tem vindo a dizer, sob pena de ficarmos para trás definitivamente”, sublinhou, acrescentando que a “educação é a mais preocupante” das “vulnerabilidades” portuguesas. Graça Moura, por seu lado, referiu como o país “não pode facilitar mais no plano da escola”. O poeta mencionou que a universidade tem de estar “para lá da buscar de emprego” e atingir o ponto de “realização humana”.

Reforma da justiça deve ir para lá da “feira de vaidades”

Sampaio classificou de “mau” o funcionamento da justiça em Portugal, com excesso de litígios e má organização dos recursos, sendo fundamental uma reforma judicial que vá além de uma “feira de vaidades”.

Durante a sua intervenção, o antigo Presidente fez poucas referências concretas à “política quotidiana”, considerando que o seu pensamento está, neste momento, para lá desses temas. Contudo, afirmou que a política de saúde do Governo actual é “corajosa e necessária”.