A região do Kosovo declarou este domingo a independência unilateral perante a Sérvia, tornando-se no sétimo país a ser criado a partir da antiga Jugoslávia. “De hoje em diante, o Kosovo será um estado democrático e multi-étnico”, disse Hashim Thaçi, primeiro-ministro do mais jovem país do mundo. Agradeceu, ainda, às Nações Unidas, aos EUA e aos países europeus que apoiaram o país no seu processo de separação da Sérvia.

No entanto, a Sérvia considera a declaração de independência do Kosovo “ilegal”, por ser unilateral, e não o reconhece como um Estado independente. Vojislav Kostunica, primeiro-ministro sérvio, afirmou que “o presidente dos Estados Unidos [George W. Bush], responsável por esta violência, assim como seus os seguidores europeus, ficarão inscritos na história da Sérvia com letras negras”.

Quando terminou o prazo para as negociações, o governo da Sérvia disse que iria recorrer a todos os meios, excepto à violência, para impedir a independência da região. Ao que tudo indica, não vai alterar a sua posição.

Não se espera violência

No dia da independência, enquanto os albaneses do Kosovo festejavam pelas ruas da capital Pristina, cerca de 2 mil sérvios apedrejavam a embaixada dos EUA, em Belgrado. Por seu lado, os sérvios do Kosovo manifestaram-se contra a independência, gritando frases como “isto é a Sérvia” e pedindo auxílio à Rússia.

No entanto, Milan Rados, professor de Ciência Política da Universidade do Porto, disse, numa entrevista ao JPN, que não deverá haver conflitos entre albaneses e sérvios do Kosovo, pois os sérvios que vivem no Norte do novo país continuarão submetidos ao governo de Belgrado.

Um passado atribulado

O conflito entre sérvios e albaneses do Kosovo é já antigo. Berço da Sérvia, a região do Kosovo foi povoada por albaneses durante a presença do império otomano nos Balcãs. Em 1991 o Kosovo proclamou-se independente, não tendo sido reconhecido pela comunidade internacional. Depois da guerra do Kosovo, em 1999, ficou sob administração da ONU até ter voltado, agora, a declarar-se independente, desta vez com o apoio dos EUA e da maioria dos países da UE.

Para além disso, considera que, pelo menos enquanto o actual governo sérvio (pró-ocidental) se mantiver no poder, não haverá reacções violentas por parte da Sérvia.

EUA apoiam, Rússia contesta

Os Estados Unidos já reconheceram a independência do Kosovo, tendo respondido afirmativamente ao pedido de estabelecimento de relações diplomáticas com Pristina. Em oposição, Moscovo mantém-se firme no não reconhecimento do Kosovo como um Estado.

Já a União Europeia (UE), não conseguiu definir uma posição unânime. Na reunião de segunda-feira dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros, em Bruxelas, decidiu-se que cada país deverá tomar uma posição individualmente. Alguns reconheceram já a independência do novo país dos Balcãs, enquanto outros, como Espanha, Chipre, Eslováquia, Roménia e Grécia, continuam a opôr-se à criação deste novo Estado.

Espanha teme que a situação que se vive nos Balcãs tenha sérias repercussões no seu território, incentivando os movimentos independentistas, em particular do País Basco.

Milan Rados explicou ao JPN que “uma proclamação de independência unilateral [da parte do Kosovo] neste momento é um acto erróneo, pois poderá reacender vários movimentos separatistas por toda a Europa e por todo o mundo”.