Naquilo que considera um inquérito aos actores da economia mundial, Ricardo Valente, economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), vê os resultados da Watson Wyatt como espelho das “expectativas incorporadas já hoje por parte do mercado”.

O cenário de crise não é mais do que a conclusão de que “o nível de confiança dos investidores é bastante reduzido hoje em dia, o que se compreende dada a conjuntura actual”. Mas as expectativas pessimistas podem não levar às temidas crises, como alerta o economista: “isto pode ser visto como sinal contrário. As pessoas estão tão pessimistas que há grande probabilidade de nada disto acontecer porque as empresas tomarão as medidas necessárias para evitar crises.”

Numa sociedade “extremamente endividada”, a solução é mesmo “poupar e consumir menos, porque o problema é um excesso de investimento”, diz Ricardo Valente. “Vemos este excesso de endividamento no investimento sobretudo nos Estados Unidos e no Reino Unido, com ‘stocks’ de dívida acima do PIB. Se olharmos para os particulares, esse ‘stock’ é superior ao rendimento”, explica o economista.

Ricardo Valente afirma que a crise ainda não está a acontecer. “O estudo Watson Wyatt revela que 40% das pessoas diz que há uma probabilidade de 50% a próxima crise se dever a este excesso no recurso ao investimento, que já existe”, diz o professor.

O cenário de recessão, segundo Ricardo Valente, não se coloca. “A economia do mundo está centrada em diferentes zonas agora, com os mercados emergentes a ajudarem as grandes economias do mundo, que procuram sair da crise. Estas novas economias estão num pólo oposto ao nosso, com enormes taxas de poupança”.

É possível um arrefecimento substancial da economia mundial, mas esta será capaz de suportar um momento de crise nas economias americana e europeia, que vão, avisa Ricardo Valente, “perder importância na economia mundial”. O essencial, segundo o economista, é as economias estarem preparadas para as crises do capitalismo, “que são normais e positivas”. “A base do capitalismo é dar um passo atrás para dar depois dois à frente, destruir capital para depois construir capital”, salienta.

Poder do mundo mudou de mãos

Ricardo Valente deixou a receita para a recuperação da crise do “subprime” e do excesso de investimento. “Das duas uma, ou as economias ocidentais vendem os seus activos aos mercados emergentes e a economia passa a ser dominada por ‘players’ destes países, ou então se queremos manter os activos na nossa posse, temos de reduzir os nossos níveis de endividamento e de consumo”, explica.

A economia mundial já não está nas mãos dos Estados Unidos e da Europa, mas sim nas economias que estas potências ajudaram a fazer crescer, hoje mercados emergentes que seguem o seu caminho independentemente da crise do “subprime” ou de qualquer outra que ainda possa vir nos próximos anos.