Pomar, um dos mais reconhecidos pintores portugueses, mostra obras criadas ao longo de 50 anos. Alvess, o "mais secreto artista português", mostra antologia da sua obra pela primeira vez.

O Museu de Arte Contemporânea de Serralves decidiu exibir obras de dois artistas portugueses de singulares características. Por um lado, é feita uma antologia da obra de Alvess; por outro, é apresentada uma junção inédita de peças de diferentes épocas de Pomar. A exposição abre ao público esta sexta-feira.

O único ponto de convergência dos dois artistas é a vivência parisiense. As divergências são mais patentes. Júlio Pomar, na exposição denominada “Cadeia da Relação”, mostra obras criadas ao longo de 50 anos, numa viagem temporal desde as “primeiras experiências” até à sua obra mais recente. Alvess, “talvez o mais secreto artista português”, vive a primeira exposição antológica que envolve obras da suas várias fases de criação.

Júlio Pomar – apesar de explicar, durante a apresentação das duas mostras, que não tem na palavra a forma preferida de expressão – falou da actividade quotidiana como elemento dominante da convivência humana. “É a actividade mais gostosa para o artista e um desporto que eu gostava de ver praticado livremente”, afirmou o artista. Alvess não falou em conferência, optando “por deixar a obra falar por si só”, como sublinhou o director do museu, João Fernandes.

O director deixou bem patente a satisfação em reunir na mesma exposição os dois criadores. “Achamos que é um momento importante porque nos interrroga sobre o que é a construção da celebridade. É uma situação inesperada por apresentar um artista que não é conhecido”, afirmou, referindo-se a Alvess.

Inspirações de Pomar e de Alvess

Pomar viaja ao longo de mais de 50 anos de carreira criando obras que resultam de uma incorporação de criações mais recentes em trabalhos de outros tempos. É o caso da peça “A Faixa de Gaza”, que junta um trabalho criado em 1977 com elementos representativos do tempos actuais, transportando a obra até 2007.

A assemblage domina a exposição de Pomar. A colagem de diversos materiais, como conchas, madeiras, couro ou algodão tornam as obras revelações da ligação ao quotidiano desenvolvida pelo criador português. O artista vai mais além com as telas simplesmente expostas e peças em metal.

Artista do nada e do agora

Alvess revela-se um artista do “rien” (nada), do “maintenant” (agora), do jogo das palavras. Centra parte da obra na letra “R”, relacionado-a com o mundo postal. A tela de fundo branco surge com frequência nas criações de Manuel Alvess, aliada a jogos de medidas e simbologias.

O fim do secretismo da obra de Alvess demonstrou ainda um criador de jogos que supreendem os utilizadores. Para que os visitantes possam vivenciar melhor a obra do artista, o museu de Serralves disponibiliza réplicas para serem manuseadas livremente.