Nada faz prever o fim da turbulência nos mercados financeiros. Depois de a economia mundial ter sido agitada no último Verão pela crise do crédito de alto risco nos Estados Unidos, prevêem-se mais quatro crises nos próximos doze anos, segundo um estudo publicado pela consultora Watson Wyatt.

Um dos sectores que mais se ressentiu com a última crise foi o das pequenas e médias empresas (PME). Mas se uma coisa são as PME americanas, que tiveram fácil recurso ao crédito, outra realidade são as portuguesas, que vêem o crédito sempre dificultado. Quem o diz é Hugo Vaz, jovem empresário e sócio de uma PME especializada em automação no ramo industrial.

“PME vão ultrapassar ‘subprime’ sem problemas”

A dúvida existente, neste momento, é a de se as PME vão ser afectadas por uma eventual crise por dívidas excessivas no investimento. “Acredito é que essa crise vá acontecer mesmo nos consumidores porque as pessoas têm créditos pessoais, que a banca facilita muito e há também aquele crédito rápido, a 3 ou 4 anos. Em relação às PME, pelo contrário, acho que elas vão suportar isto através do pagamento de salários”, explica Hugo Vaz.

O empresário da Setlevel alerta para as diferentes realidades, que tornam pouco provável um “subprime” português, até porque em Portugal, a crise é outra. “As consequências de uma crise como o ‘subprime’ são mais sentidas na banca. Em Portugal há poucas empresas de crédito, são agentes autorizados, não existem bancas como nos Estados Unidos, que são constituídas por pequenas e médias empresas. Essas, sim, ficaram afectadas”, considera o responsável da empresa.

Hugo Vaz acrescenta que “em Portugal a maior parte das PME são de serviços, e vão continuar a vendê-los”. Na opinião do empresário essas companhias “vão conseguir aguentar esta crise sem qualquer tipo de problema” e que esta se “deve aos custos do nível de vida”.

Já há endividamento excessivo no investimento

Num cenário de crise, “normalmente é isso que acontece, reduz-se o investimento e espera-se que o mercado estabilize. Aí, as PME ficam a perder.” Mas até pode acontecer o contrário. “As pessoas começam a comprar menos tipos de um produto; o mercado muda e começa a vender outros produtos. Basta haver confiança para investir”. E, segundo Hugo Vaz, “existe sempre alguém que está a comprar e a vender, a investir e a aumentar de produção”, e por isso, “as PME acabam por ganhar”.