O ensino do mirandês conta com 20 anos, mas só na passada quinta-feira, Dia Internacional da Língua Materna, o idioma transmontano ganhou o primeiro manual de apoio pedagógico.

A lei do mirandês, ou seja, o reconhecimento dos direitos linguísticos da comunidade mirandesa, foi aprovada em 1998 e a língua foi decretada como segunda língua oficial de Portugal.

“Las mies purmeiras palabras an mirandês” (As minhas primeiras palavras em mirandês) surgiu “da necessidade de existência de dicionários e manuais para o apoio ao ensino do mirandês”, explicou o autor do manual, António Bárbolo ao JPN. Segundo Bárbolo, o livro contempla algumas regras básicas da língua e está organizado por temas, como o corpo, a família e a casa.

Actualmente, o mirandês é ensinado a 400 alunos das escolas de Miranda do Douro, que vão receber gratuitamente o manual da autoria de António Bárbolo e Duarte Martins, um dos três professores do idioma nas escolas locais. Os autores queixam-se da insuficiente aplicação da lei, salientando que “a chamada lei do mirandês foi um passo importantíssimo para o reconhecimento da língua, mas é preciso implementar esse reconhecimento político no terreno”.

António Bárbolo acusa o Ministério da Educação de alguma negligência e defende a institucionalização da língua como forma de salvaguardar os seus direitos.

“Hoje é o dia em que devemos comemorar toda a diversidade linguística, não só em português, mas em todas as outras seis mil línguas que se falam à face da Terra”, frisou António Bárbolo que assinala a importância da preservação dos dialectos minoritários.

O livro foi editado pelo Centro de Estudos António Maria Mourinho (CEAMM) e terá uma primeira edição de dois mil exemplares.

Extingue-se um idioma de 15 em 15 dias

2008 foi declarado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional das Línguas e a UNESCO celebrou na passada quinta-feira o Dia Internacional da Língua Materna. Em todo o mundo existem cerca de 6.700 línguas. Contudo, estima-se que mais de metade desses idiomas estejam em perigo de extinção, sobretudo por pertencerem a comunidades pequenas e dispersas.

Segundo os linguistas, uma língua deverá ser comum a um mínimo de cem mil pessoas para que não corra o risco de ser extinta. No entanto, este número revela-se difícil de atingir, especialmente em países que concentram várias línguas, como a Papua-Nova Guiné (820), a Indonésia (737), a Nigéria (536) ou a Índia (427).