“Ontem duas pessoas vieram comprar carregadores, depois de terem visto na televisão que a Polaroid vai acabar”. Alice Matos, da loja de fotografia profissional Ana e Cabrita, no Porto, pensa que, apesar do fim anunciado das Polaroids, as máquinas vão continuar a ser vendidas.

A magia das máquinas de fotografia instantâneas foi vencida pelas câmaras digitais. A empresa Polaroid anunciou, no início deste mês, o fim da produção. “Foi vencida em termos económicos, já que a Polaroid tecnicamente faz coisas que as digitais nunca vão fazer”, explica o fotógrafo e professor de fotografia João Limamil.

Protestos na Net

Os protestos dos fãs e adeptos contra o fim da Polaroid já se fazem ouvir na Web. Lançaram-se petições on-line e as comunidades virtuais, como a Polanoid, lamentam o seu fim.

“É uma perda muito grande para a fotografia”, diz. “Já fiz muitos trabalhos com Polaroid e o imediato sempre me fascinou”. Para o fotógrafo, a Polaroid supera as máquinas digitais em alguns aspectos. “Na Polaroid, temos o objecto na mão; na digital só podemos ver”, diz.

Da mesma opinião é o fotógrafo José Carlos Marques. “Ao longo da história nós olhamos para a fotografia como um objecto final. Com a digital isto não acontece”, conta. “Perde-se muito com o seu desaparecimento”.

“Estamos a ir por um caminho que nos permite ter menos fotografias que antigamente”, diz José Carlos Marques. Com a fotografia digital, as fotografias acabam por ficar guardadas nos computadores ou em outros suportes e poucas chegam a serem reveladas, “enquanto com a Polaroid nós podíamos trocar com os amigos ou colar na parede”, exemplifica.

“Fotografar o momento”

A Polaroid foi criada em 1948 pelo fotógrafo Edwin Land, que desenvolveu a película e a câmara de revelação instantânea. Conta a história que Edwin Land começou a pesquisar este novo tipo de máquina depois de tirar fotografias à filha na praia e esta perguntar por que não podia ver a fotografia logo a seguir.

“O imediato sempre me fascinou. É uma questão do próprio objecto único e de fotografar o momento”, diz João Limamil, professor de fotografia.

José Carlos Marques entrou em contacto com a Polaroid durante a sua formação académica. Na altura, a máquina funcionava como um esboço do trabalho final. “A Polaroid era a única opção que tínhamos para ver o resultado final. Era um recurso para melhorar o trabalho”, conta o fotógrafo.

Será mesmo o fim?

A empresa Polaroid vai agora investir nas impressoras portáteis que podem ser ligadas à câmaras digitais e telemóveis. Em Janeiro, a empresa apresentou uma impressora portátil que pesa apenas 220 gramas e funciona por USB ou Bluetooth.

“É difícil fazer previsões futuras, mas em termos artísticos ainda não é muito comum a utilização de impressoras portáteis”, diz João Limamil.

“Eu ainda não acredito muito que vai acabar”, confessa José Carlos Marques. O fotógrafo pensa que outra marca poderá continuar a fabricar os carregadores (filme) – as chamadas “munições”, na gíria fotográfica.